sexta-feira, novembro 07, 2014

O fim da adolescência tardia e outras convulsões...



E eis que aos 30 me deu essa liberdade de espírito, ser adolescente. Sair, sair, rir muito fazer tudo desalmadamente e só não o fazer como se não houvesse amanhã, porque aos 30, amanhã tens de ir trabalhar.

E é bom ser a adolescente que nunca fui. Ter amigos, descobrir cumplicidades, deixar de ser de uma vez por todas o bicho estranho,  de não saber o que fazer com as mãos, deixar de ser socialmente desajeitada porque não gosto de beijinhos de estranhos e nunca sei como cumprimentar as pessoas com quem lido no dia a dia.

Sou assim, amanham-se. Eu há 30 anos que me ando a amanhar, aqui estou. Continuo socialmente desajeita, "but who cares? I don´t!".

Mas a minha adolescência tardia é como todas as outras, eventualmente terá de acabar e este ano, ao entrar em Novembro, também ele brindado por um verão que não queria acabar, deu-me vontade de começar já a fazer planos, a pensar 2015, a colocar metas e a traçar caminhos.

De repente dei de caras com a adulta que quero ser. Com as coisas que quero conquistar.

Nunca em 30 anos me senti adulta, nem em nenhuma das decisões das tantas que já tive de tomar, mesmo nas coisas que mudaram a minha vida, esse debate continuo sobre o tempo e as opções e a pressão desgraçada que é só cá estar uma vez. Não, em 30 anos nunca fui muito adulta. E não tem a ver com a capacidade de tomar decisões certas ou com a responsabilidade que se consegue assumir.

É um outro sentimento, é uma coisa mais interior e instintiva que se alimenta durante tempos, e um dia o espelho devolve-te um outro reflexo.

Ainda não sei se foi uma adulta que vi...mas parece-me mais perto.

***

Hoje acendi a lareira, dos anos todos em que muito contrariada o meu pai me levou no inicio da primavera "à lenha", chegou agora a compensação em forma de lareira alimentada por um pai que tem tempo e vontade para a "acariar".

O gato adora, eu adoro o gato. Não sei porque me deixei viver tantos anos sem um. Um luto extenso, talvez porque o que desapareceu com a gata há tantos anos tivesse sido mais que ela, talvez tinha sido o ultimo fôlego de uma Era. Um dia éramos todos felizes, no outro já não o éramos.

O gato, esse Ser que respira é um rasgo de vida na casa. Abrir a porta e encontrá-lo distorce um pouco a realidade da solidão destas quatro paredes. Que não são as minhas, e por mais que eu as encha e as maquilhe, estarão sempre longe do espaço que eu já construí.
Não são as minhas janelas voltadas para a serra nem o meu terraço sob o vasto céu estrelado do Alentejo.
Custa a desprender-se de mim essa visão, desse sitio já construído. Embora se saiba que o caminho fluí noutras direcções, o saudosismo prende-nos à terra como uma ancora.


***

Então em 2015 eu quero fazer uma maratona...terei disciplina para me preparar?
Em 2015 quero ganhar mais, melhor. Perderei o medo de arriscar?

Ideias....para uma ano que ainda está longe de chegar.
É isso que as pessoas adultas fazem não é? Planos.....