Há uns anos a verdadeira questão residia no auto-conhecimento. Quem sou, como sou? Como reajo, se me tremem as mãos de nervoso perante os grandes momentos da vida? Define-te em poucas palavras, perde-te num mar de texto, sabes afinal quem és?
Sabes, como irás decidir nas pequenas contrariedades, conheces-te perante cada situação. E esse mar de dúvidas poderia ocupar grande parte do pensamento, gerar frustração por uma resposta contrária ao esperado ou uma reacção descabida. Nessas tantas vezes em que não nos reconhecemos.
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Hoje a questão coloca-se quase sempre sobre os limites. Sabes onde estão? És capaz de? Nessa tua mente torcida, nesse espaço etéreo das ideias, és capaz de? Fronteiras, metas, limites, superação.
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Deu-me então para pensar há uns tempos que sei exactamente quem sou, como se tivesse tido um encontro imediato com esta pessoa, como se tivessemos ficado numa longa conversa de café ao fim de tarde e ela me tivesse contado os seus mais recônditos segredos, admitindo as suas vergonhas. Como se num confessionário ela me tivesse explicado a natureza da sua maldade ao mesmo tempo que abria o coração enorme para mostrar as coisas boas.
A natureza das suas buscas, as idiossincrasias da sua moralidade. Essa luta interior entre o correto para o mundo e o correto para si. Conversamos tão longamente que nos podemos fundir e finalmente serenar numa outra busca. Os limites.
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Nos últimos anos deu-me para ser a cínica das relações. Daquelas que se compõem de homens e mulheres, de hormonas e de esperanças e expectativas e quase inevitavelmente da antítese brutal de tudo isso. Dos corações partidos, das expectativas nunca alcançadas, do desgaste, da perda.
Uma parte de mim atingiu esse limite e matou o romance. Não a paixão, não o carinho, não a confiança. Mas o romance é o óbito da década.
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De todas as vidas que eu poderia ter vivido está a calhar-me esta, que é de uma estrema liberdade interior e de igual responsabilidade. Nas pequenas e grandes decisões, apenas essa conversa de café que eu fiz comigo mesma serve de guião. Esse conjunto de pequenas directivas capazes de definir-me e que me permitem reconhecer-me naquilo que decido fazer, seja a coisa certa, seja os erros todos a que conscientemente decidimos nos entregar.
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O tempo, a consciência da vida, dos dias e das horas a passar apareceu-me nessa conversa. Confrontou-me com uma certa apatia e essa apatia encheu-me de medo. De medo dessa pessoa que não chora nos funerais, que nunca é arrebatada de ficar sem ar, que não quebra, que não se entrega a nada por inteiro, não porque tem medo, mas simplesmente porque nada a faz sentir-se assim. Nunca está à beira de salvar o mundo, nem de o perder, um batimento cardíaco sem alterações, E no entanto, sempre completamente ultrapassada pela beleza da vida...
Nessa conversa interior falamos disso, de soltar, de viver, viver...de experienciar. De provar, de transgredir e de chegar o mais perto possível do meu conceito de estar VIVA.
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2014 será na minha biografia o ano em que me conheci. 2015 o ano de sair da apatia.