Ir ao FMMSines não é bem ir a uma festival, é ir ao encontro das nossas ansiedades primárias.
É ir a um local questionar o que somos, que vida estamos a viver. É confrontarmo-nos com tantas outras opções. Notar o quanto nos aburguesamos desde os tempos em que queríamos engolir o mundo de uma vez, dança-lo todo numa noite, ser sempre o melhor que achávamos que poderíamos ser, ainda que sem qualquer mérito ou consideração.
Quando nos sentamos no passeio a gabar caravanas ou a ouvir o babilónico som ambiente, questionamos. Quem são estas pessoas? De onde vêm, que se passou entretanto? Que fixação é esta com cães rafeiros que se assemelham na higiene aos seus próprios donos?
Quem são? Quando decidiram sair da abundância e do conforto para esta vida despida?
E eu? Quando é que decidi ter uma vida convencional, corresponder?
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O chão do castelo está sempre revestido de ervas frescas, alfazema e hortelã pimenta entrelaçadas no pasto que ao cair da noite, com a chegada da maresia, libertam um odor agradável, campestre que nos faz sentir um pouco mais ligados à terra, como se os nossos pés se prolongassem em raízes profundas e fossemos imovelmente dali.
As muralhas marcam a linha do horizonte e depois disso só um imenso céu, negro e estrelado. Um manto que nos cobre e por baixo dele o palco, as luzes, o barulho das pessoas que balançam nas suas raízes. Pessoas excêntricas, normais, os sós e os seres sociais. Os que visivelmente tiraram a roupa estilizada e se mascararam de Sines e os que no seu melhor fato não sabem onde vieram parar. O castelo pulsa com todos, ainda antes do primeiro acorde, enquanto só as diferentes línguas são música, a cerveja vagueia pelos copos e os fumos brincam de mão em mão.
Imagino que no inicio, assim que houve consciência o Homem juntou dois sons e criou o ritmo. Rudimentar mas apaziguador, repetitivo e natural como o próprio bater do seu coração.
E depois o sangue a pulsar nas veias, a ansiedade, o medo, a paz e todas as outras nuances da alma humana se começaram a reflectir nesse ritmo e isso é a música.
Em Sines, o primordial encontra-se com o erudito. E isso é musica universal, uma linguagem genética que nos coloca a todos com o sangue a pulsar ao mesmo ritmo. Em paz e em êxtase ao mesmo tempo. Cansados e ainda assim transbordantes de energia, bebados de tudo e experienciando a mais clara das sobriedade.
A musica a ser comunhão.
Não se vai lá ouvir as modas, nem ser contracultura. Vai-se lá assumir a beleza da diferença. A qualidade do que é bem feito, não importa onde vem nem o quão diferente pode ser de nós, da nossa percepção ou dos parâmetros que nos regem.
Vai-se ao Castelo de Sines viajar. Encontrar Mundos, dentro e fora de nós.
Por isso que voltamos todos os anos.
Ainda não descobrimos tudo.