segunda-feira, abril 30, 2007

Cheiros...


Subiu as escadas arrastando-se. As malas pesavam, o dia já ia longo.
Sentia sempre aquela sensação de cansaço ao subir até aquele segundo andar. Amaldiçoava a falta de elevador daquelas construções antigas, perdidas nas ruelas de calçada. Mas esta sensação só durava até alcançar o seu patamar, amplo e banhado por aquele vitral grande voltado a poente, iluminado de manhã à noite.
Pousou as malas no chão, procurou desajeitada pelas chaves nas malas, haviam sido tantos meses em viagem, por momentos breves quase se esqueceu que pertencia ali, que aquela era a sua casa, que tinha de voltar um dia.
Colocou a chave na porta, rodou lentamente, deu aquele jeitinho especial que a porta velha e entorpecida pedia e abriu. Uma mancha de luz foi cobrindo a sombra existente no chão, o pó levantou-se à passagem da porta, um mundo em suspenso começou de novo a viver.
Deu um passo em frente, inspirou longamente. Aquele cheiro. Na sua casa havia um cheiro único, inigualável. Uma mistura entre o seu cheiro pessoal, a cremes e perfumes, a produtos de limpeza, a incenso e a comer. Tudo coisas que tantas outras pessoas podem também usar, mas que ali, na sua combinação aleatória pessoal criavam aquele odor tão nostálgico, tão peculiar que poderia identificar como sendo a sua casa em qualquer parte do mundo.
Inspirou tão solenemente esse cheiro à entrada da porta, e reteve-se alguns segundos. O olfacto é acomodado, acostuma-se rápido e deixa de sentir.
Entrou, apressou-se a largar as malas a um canto e a abrir a janela que dá para a rua. Abriu-a de par em par, deixou entrar aquela brisa de final de tarde. Espreitou pela varanda, acenou às vizinhas que às suas janelas comentavam já: “A menina voltou.”
Olhavam-na com curiosidade, tentavam perceber no seu rosto as diferenças, na sua inocência pensavam que alguém que havia visto o mundo parceria diferente.
Não se deixou incomodar, sabia que aquelas pedras da calçada viviam disso, de pequenas conversas de esquina, de afirmações e exclamações sobre a vida alheia, de pequenas perguntas deixadas a pairar no ar. Sabia de tudo isso quando há um par de anos tinha escolhido aquele prédio antigo, pintado de cal com rodapés azuis, com janelas de sol, com tectos baixos e histórias para contar.
Tinha dado tantas voltas, tinha visto mares, montanhas, pessoas no meio do silêncio, pessoas no meio da confusão.
Tinha visto tudo, sentia.
No seu intimo tinha sentido aquela vontade enorme de partir, de ver coisas, de procurar. Achava que era do mundo, que a sua casa seria em qualquer lugar.
Passaram tantos meses, tantas camas usadas, tantas comidas diferentes, e cheiros, tantos cheiros estranhos, agradáveis, tristes, doces e amargos, tantas luzes tantos ângulos de ver o sol.
Agora, ali, com as suas mãos pousadas nos ferros forjados da sua varanda voltada a poente, a olhar o horizonte entrecortado por telhados e velhas antenas, agora que o cheiro do seu mundo já se havia diluído em si, que já não conseguia sentir aquela amálgama de odores seus, agora que já fazia de novo parte daquele universo saltitante de pequenas coisas. Sentia que poderia estar em muitos sítios, que poderia viver nas terras do sol nascente, que se poderia banhar nas águas quentes do pacífico, poderia até correr pelas ruas de uma qualquer cidade movimentada cheia de néons e barulhos.
Poderia estar onde quisesse, mas só havia um sítio onde se sentiria em casa.
Ali, na sua velha rua de calçada, a colocar a chave naquela velha porta de madeira que teimava sempre em emperrar.
Ali, naquela rua onde as pessoas comentavam a sua volta. Só ali, entre aquelas paredes que guardam para si aquela mistura de essências só suas, aquele cheiro tão natural, a comer, a perfume e creme, a incenso de baunilha, a detergente de lavar o chão e a banho acabado de tomar.
Aquela mistura tão banal de coisas que toda a gente tem em casa, mas que na sua casa, por breves instantes ao entrar se sentia, como a essência única e especial que era a sua casa.

sexta-feira, abril 27, 2007

Apetece-me dar-vos musica...

Às vezes fico assim… num silêncio frágil. Como se todas as palavras tivessem fugido de mim apressadas para bem longe e me fosse impossível prenunciar um som.
Fico assim num silêncio, cheia de coisas para dizer, mas dentro da minha cabeça nenhuma ideia se junta e conjuga com outra, nada bate certo, não surgem pensamentos…não surge nada…

terça-feira, abril 10, 2007

Caminhos...


Faço este caminho três vezes por semana, à tardinha. Como estamos em Lisboa, esta bela Localidade, o trânsito é tanto e tão lento que até dá para me ir dedicando a captar imagens.

Cada um faz o que pode para se abstrair do trânsito!!!

segunda-feira, abril 09, 2007

Há lugares assim...

Onde o tempo pára...
E nós ficamos embevecidos a ver a chuva que cai sobre um manto verde pintalgado de cores que anunciam a Primavera.
Lugares que na tristeza do Inverno ou no fulgor do Verão serão sempre assim, deslumbrantes, imponentes, únicos.
E quando posso estar assim, quieta a olhar a chuva da esplanada, comendo o meu doce, bebendo o meu café, acompanhada, lendo jornais, rindo das notícias, penso. Sinto-me tão calma, é tudo tão simples, tão sem pressa, nem um toque de exuberância, nada de extraordinário, só coisas simples nesse momento.
Fecho os olhos, sinto o sopro do vento, sinto. "Deve ser esta a sensação! É isto que é ser feliz."






Miss Mia Wallace

A vida no campo é boa e recomenda-se!



Pelo menos para a Miss Mia Wallace não se poderia estar melhor....

Muito miminho da família, muita terra para se esfregar, muitas moscas para caçar, e a certeza que ao fim do dia há um sofá quentinho para dormir.

quarta-feira, abril 04, 2007

"It´s a trange world, isn't it?"





Jeffrey: There are opportunities in life for gaining knowledge and experience. Sometimes, it's necessary to take a risk. I got to thinking. I'll bet someone could learn a lot by getting into that woman's apartment. You know, sneak in, hide, and observe.

Sandy: Sneak into her apartment?

Jeffrey: Yeah.

Sandy: Are you crazy? Jeffrey, she's possibly involved in murder. This is givin' me the creeps.

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Sandy: I don't know. I mean, it sounds like a good daydream, but actually doing it is too weird. It's too dangerous.

Jeffrey: Sandy, let's just try the first part. No one will suspect us. Because no one would think two people like us would be crazy enough to do something like this.

Sandy: You have a point there.

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Sandy: I don't know if you're a detective or a pervert.

Jeffrey: Well, that's for me to know and you to find out.

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Sandy: [smiling] It's a strange world, isn't it? [Jeffrey nods in agreement]


Simplesmente estranho... Tive de deitar a cabeça na almofada e pensar nele, nas cores, nas imagens, nos diálogos.
E sim, é um mundo estranho, e delicioso ao mesmo tempo, incompreensivel mas tão nitido.
Só contrastes entre aquilo que a nossa mente compreende e aquilo que os nossos olhos conseguem ver.
E lá fui eu a pensar para a cama, a pensar no mistério por resolver, a imaginar as personagens e os seus porquês.
Lá fui eu confusa como sempre, sempre que me proponho a ver um filme do senhor Lynch...
Mas isso não é mau... Em contraste com tantas outras coisas que nos dão que pensar...

terça-feira, abril 03, 2007

Bonnie "Prince" Billy - Strange Form Of Life

Sabe sempre bem ouvi-lo.

Quinta-feira, dia 5 de Abril ao vivo no Maxime em Lisboa...

segunda-feira, abril 02, 2007

Mudança

Não se assustem, fiz uma lavagem, mudei de roupa e agora estou de preto...
Porque o preto fica sempre bem...
Porque as mudanças são boas, e fazem avançar a vida!