quinta-feira, agosto 30, 2007

Não se desprendia...


E de repente sentiu-se assim, enraivecida, com uma lágrima nervosa no canto do olho, com medo de explodir a qualquer minuto e nem saber bem porque.
Sentiu tudo aquilo num turbilhão que oscilava entre o medo, o tédio, a angústia total e sombria, á ingénua esperança de que alguma coisa haveria de correr bem.
Como uma criança encolhia-se em si andando pelas ruas sozinha, com ar assustado á espera que alguém lhe estendesse a mão…
Aquela sensação de abandono total não se desprendia…
E embora soubesse não estar só sabia que há coisas na vida, que apenas podem ser feitas na solidão do nosso ser.
Mesmo assim, aquela sensação de abandono total não se desprendia…
Pensava:”Tomara que algo maravilhoso acontecesse e não tivesse de ser eu a revolucionar o mundo, era muito melhor que ele se revolucionasse sozinho, a seu cargo, à sua única responsabilidade.”
Sabia: “ Não irá acontecer, nunca acontece, e como tudo na vida tudo sairá de nós para a nós voltar.”
Mas aquela sensação de abandono total não se desprendia…
Poderia: “Fazer o que me apetecesse, poderia agir como se vivesse sozinha neste mundo, enfim, poderia fingir que não existirá mais o amanha. Só hoje e só o que de hoje conta interessa.”
Mas aquela sensação de abandono total não se desprendia…
Nem na apreciação das pequenas grandes coisas, nas maravilhas da vida, em nada, não se desprendia…
Nem no aconchego do seu mundo, nada.
Nesse dia sentia-se como uma criança rota e perdida por entre ruas estreitas de prédios altos, por entre carros fumarentos e ruas porcas num dia de ventania.
Nada feito, aquela sensação de abandono total não se desprendia…

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