segunda-feira, dezembro 10, 2007

Familia...


Desde de cedo que me acostumei a ver a minha como motivo de tensão, de discórdia, de difíceis sentimentos de culpa e de divisão.
Tentaram desde cedo convencer-me de que o facto de ter uma família compartimentada poderia ser bom. Duas casas para visitar, duas opiniões a serem ouvidas, o dobro dos presentes.
No entanto com o passar dos anos dentro de mim apenas cresceu distanciamento, como se entre um sítio e outro existisse agora um fosso e nesse fosso eu tivesse por fim estabelecido a minha própria casa. E não pertencesse mais a nenhuma outra.
Desde muito cedo decidi que queria viver em qualquer lado menos junto à minha família. A qualquer família. Porque a família nos consome a identidade, nos pede sempre, no exige sempre que estejamos sempre acima de um certo nível, que estejamos sempre dentro das expectativas, que sejamos à sua imagem, que no projectemos no futuro de uma maneira já programada anteriormente.
Nunca estive preparada para essas expectativas. Nunca olhei nessa mesma direcção, numa reacção puramente instintiva comecei por fazer tudo exactamente ao contrário ainda na adolescência.
Achava-se que era rebeldia, mais tarde desequilíbrio, hoje em dia parece-me que era apenas eu a tentar ser eu, a tentar crescer forma da “forma”.
No entanto pelo caminho foram-se perdendo alguns elos, alguns afectos ficaram incompletos, e a minha vontade de fazer parte de algo incerta.
Já não sei se estou cansada dos grandes jantares onde toda a gente fala ao mesmo tempo, da mesa posta desde de manha até de madrugada, de tanto comer, da compulsividade. De ver a minha mãe na cozinha o fim-de-semana inteiro, de sentir no ar que há perguntas que se queriam fazer mas para as quais ninguém quer ouvir resposta, se porque há traços das pessoas que o tempo acentua que nos são desagradáveis, ou pura e simplesmente porque sei que aquilo é uma farsa, é mais um jantar de congratulação pelo facto de estarmos juntos quando na verdade o que nos separa é cada vez maior.
Continuo a gostar de toda a gente, adoro a minha família toda, mas de repente apetecia estar mesmo só no mundo.

Apetecia-me ir de fim-de-semana e estar só com a minha mãe, apetecia-me sentar no sofá e colocar os pés ao aquecedor e descansar, deixar que a minha cabeça se esvaziasse e eu pudesse ter 12 anos outra vez.
Às vezes sinto-me tão injusta por sentir este tipo de coisas, senti-me sempre injusta nestas coisas, mesmo quando não era eu a decidir…

1 comentário:

Mário Pedro disse...

Bom, sendo assim, Feliz Natal... :)