Nunca me esqueço de como é bonito o fim de tarde nesta praia.
Tempos houve em que passava aqui os meus dias de Verão num delicado limbo, entre dias de trabalho duro e pura transgressão de regras.
Na altura tudo parecia mais grave do que o que me parece hoje. À distância do tempo que passou, as minhas incertezas pueris, as asneiras deliberadas que fazia, o mundo criado por mim não passam de um ilusão distante.
Nada do que eu imaginei naqueles dias passou a existir.
Lembro de tarde passadas em biquini, de me sentar numa esplanada virada para o mar a comer melão com presunto e vinho verde. Tive alturas em que fui presunçosa. Mas para mim era completamente indiferente.
Era tudo uma grande ilusão, nada absolutamente nada pertencia a um mundo sano.
Havia sempre algo mais em mim. E eu achava que ia continuar assim para sempre, que eu ia crescer e continuar a depender de sensações induzidas e inventadas. Achei que poderia me satisfazer através de sensações exteriores a mim.
Estamos em Fevereiro e sol brilha como numa qualquer tarde de Verão.
Fixei o olhar bem lá ao fundo até ao topo da serra da Arrábida. Depois fechei os olhos, vi-me por ali.
Passou já tanto tempo que nem pareço eu.
Era apenas um esboço de mim…
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