"O bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido (...) espera pacientemente, (...) e viria talvez um dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz."
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"Sei apenas que é preciso fazer o necessário para deixar de ser um pestiferado e que só isso nos pode fazer esperar a paz, ou, na sua falta, uma boa morte. É isso que pode aliviar os homens e, se não salvá-los, pelo menos fazer-lhes o menos mal possível, e até às vezes, um pouco de bem. (diálogo de Tarrou ao médico Rieux)"
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A peste é a alegoria de um mal maior, um mal divino instalado entre os Homens daquela cidade, qual Sodoma e Gomorra destruídas pela ira celestial.
Porque a peste mais que ceifar vidas fecha a cidade sobre si. Impedida de respirar e de evoluir em conjunto com o resto do mundo resta-lhe sobreviver, como se fosse um organismo vivo em que as suas células morrem aos poucos e se decompõe perante o seu olhar impotente.
Espera inquieta pelo fim da ira divina, na esperança de poder renascer dos seus mortos e fingir de novo viver numa normalidade mais que aparente até que nova praga se abata sobre si.
Neste organismo vivo em profunda decadência lutam células, lutam contra as suas vidas passadas e contra a peste que as ronda como uma sombra. Lutam pela esperança de sobreviverem à “limpeza”. Questionam os motivos, sentem saudades dos que ficaram retidos do outro lado dos muros, fogem de si e de se tornarem um pestiferado e morrer numa qualquer vala anónima.
Muitos descobrem, que a peste que os persegue há muito é pior que aquela que agora lhes chega.
Se em “O Estrangueiro” Camus questionou a existência do homem, os seus propósitos ou a falta destes, em “A peste”, Mersault transforma-se numa cidade inteira.
Um relato sem falsos moralismos nem sentimentalismos nu na crueldade dos factos, como a peste negra terá sido nos tempos em que dizimava à sua passagem mais de um terço da população.
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