Penso que não é novidade para ninguém que, a imparcialidade no Jornalismo é uma utopia, uma mistificação do papel do jornalista e uma realidade grandemente constrangida pela necessidade de sobrevivência das instituições.
Porque mesmo que o Jornalista em si e no seu trabalho o seja o mais possível, o critério de escolha editorial e o factor angariação de publicidade condicionam em toda a linha os assuntos que ocupam as páginas de um jornal.
Quando me abordam e me perguntam o porquê de não se abordar este tema, o porquê de não falar naquele assunto flagrante, o porquê de afinal não se cumprir o objectivo óbvio de pôr o dedo na ferida, de se denunciar o que está mal o ser o mais informativo possível, a única resposta que eu posso dar é cingir-me ao silêncio.
Porque deve parecer mal dizer em público, que no fundo, a preocupação capitalista e empresarial não se coaduna com esses pormenores idealísticos, e teoricamente correctos do Jornalismo.
O que é uma pena. Mas eu enquanto responsável pela publicidade do pasquim, consigo compreender a linha ténue que separa a sobrevivência da empresa e a falência por falta de anunciantes.
Na imprevisibilidade que é a venda de publicidade, e principalmente a recuperação de pagamentos, num jornal regional, existe uma coisa que é quase certa. A sobrevivência básica é assegurada pelo poder local.
E no poder local podemos incluir mais do que as instituições de estado. Podemos falar de pessoas influentes, de empresas há muito instaladas, de situações que de tão antigas são instituições, de ideias das quais não se pode distanciar.
Porque é que não se fala da falta de um parque infantil, dos escritórios abafados que surgiram como cogumelos e que servem de ocupação de tempos livres para as crianças no Verão a preços exorbitantes que os pais pagam por não terem outra alternativa. Porque não se fala da má representação Politica da região nos órgãos centrais, e no esquecimento geral em que está a região?
Porque é que não se enche invariavelmente as paginas verdades inquestionáveis e incómodas?
È triste, num pais onde existe liberdade de expressão. A democracia aqui apenas nos permite, delicadamente e sempre em sobressalto tentar assegurar os ordenados ao fim do mês.
Ao ser eliminado o beneficio do porte-pago, ao não existir fundos direccionados à actividade, condena-se os meios de comunicação social do interior do pais a prosperarem apenas se aceitarem tornar-se num catalogo, enchendo as suas páginas de publicidades, mendigando edição após edição perto das entidades, nem sempre disponíveis, e na maior parte das vezes má pagadoras. Problema ainda mais agravado na nossa região, cuja malha industrial é fraca e as empresas capazes de estruturar planos de comunicação que incluam gastos de publicidade são poucas
No momento, e perante o grande numero de desempregados altamente qualificados na área, parece-me que um investimento profundo e uma revitalização dos meios de comunicação social do interior, poderiam reanimar o mercado, absorver inúmeros jovens no desemprego e manter a tradição em aberto, porque ainda existem centenas de pessoas, idosas ou a caminho do ser, que esperam religiosamente pelo jornal de manha.
Poderia-se pensar em benefícios fiscais para as grandes empresas a nível nacional se gastassem parte dos milhões que gastam anualmente obrigatoriamente em páginas de jornais nacionais? Criando uma rede de incentivo, ajudando a perceber que uma estratégia de proximidade em determinadas regiões é mais facilmente cumprida por esses meios do que através de um jornal nacional?
Estudos, teses? Como se convence as agências de meios e os gabinetes de marketing que o Zé da Esquina lê o jornal lá terra e nem se chega perto de um Publico ou de um Expresso?
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