São caminhos estranhos os da memoria. Caminhos que fazem parecer as coisas mais douradas do que foram de verdade.
E quando enchemos a boca para falar daquilo que foi, das aventuras vividas, das tropelias dos velhos tempos, nunca deixamos de ser um velho pescador a explicar o tamanho do peixe que apanhou.
A vida parece sempre melhor muito tempo depois de ser vivida, como um vinho ainda a amadurecer.
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Ontem percorri caminhos desses. E com companhia para contar o que havia a cada esquina. Uma guia virtual para um mundo que já não existe. Porque hoje em dia já nem as pedras sobram neste mundo em constante mutação. Do tosco constroem-se modernidades, do selvagem civilização.
Sobrou apenas o postal da memoria.
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Há dez anos andava eu no mundo a achar que sabia. Sim, que sabia qualquer coisa de diferente, que tinha descoberto qualquer segredo ao olhar para o meu umbigo. Andava perdida entre os outros a achar que era diferente, que era especial, que nada me atingia. Gozava na altura de uma espécie de imunidade. Criei um mundo paralelo e quase que me perdia...
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Quando penso em mim à dez anos sinto-me indubitavelmente confusa. Era já eu. Aquele projecto de mim. Um esboço de alicerces frágeis. Um poço de medos e ilusões. Um olhar perdido para a vida.
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Quando penso naquilo que pensava que iria ser dez anos depois esboço um sorriso trocista.
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Agora, dez anos depois, falo como o pescador fala da sua pescaria.
sábado, maio 16, 2009
A memória...
Publicada por Angie Mendes à(s) 12:09 da manhã
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1 comentário:
Já não sentes hoje que sabes algo de diferente?
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