A vida dos outros...

Acontece também. Longe dos nossos olhos, sem que possamos fazer mais parte.
Desenvolvem-se nas suas rotinas, do trabalho para casa, nas noites nos cafés, nos casos amorosos, nas perdas e nos ganhos, nas contas que aparecem por pagar. Nas doenças que não chegamos a saber que aconteceram e nos planos de futuro dos quais não fazemos parte.
E no entanto a familiaridade de momentos vividos são sempre tão confortantes, mesmo quando o silêncio se instala em conversas que já não sabemos como continuar.
E repetimos vezes sem conta a história daquela noite que já ficou bem lá atrás, rimos de nós mesmos e da imagem que nos ficou desses momentos. Gozamos com as aspirações que tínhamos, lamentamos ou damos graças pelo ponto a onde elas nos levaram.

É pena que as distâncias pequenas se tornem tão grandes pela nossa falta de tempo para partilhar. Que os poucos quilómetros que nos separam sejam demasiado caros para que os possamos fazer mais vezes. É pena que nunca mais possamos ter 18 anos, tempo e vivacidade para descobrir o mundo juntas.

Lembro-me de que quando era pequena achava que não havia vida para além daquela que eu podia ver. As pessoas sucediam-se como figurantes que uma vez fora da minha vista desapareciam por detrás do cenário inanimando-se. Sem vida e sem enredo.

Afinal a vida dos outros é real. E deixa-nos cheios de pena de não fazer parte também. Enquanto vivemos a nossa aqui distantes.
Dimensões diferentes e paralelas e os mundos de oportunidades que não podemos aproveitar...
Vida lixada esta, que é só uma, estática, indivisível e apenas vivida num sitio de cada vez.