São como um vírus que se vai instalando e corroendo cada esquina. Tornando-as sombrias, sujas e vazias.
Primeiro uma, depois outra mais abaixo, depois a da frente. Uma a uma as montras da cidade vão ficando vazias, preenchidas apenas pelo papel pardacento do sol onde se lê “Aluga-se”.
A rua do comércio é já só uma sombra daquilo que foi e nem nas manhãs de sábado se parece consigo. As vozes calaram-se e a rua passou a ser apenas isso, uma rua onde se passa apressadamente. Não há mais necessidade de abrandar o passo e ver as montras. Elas estão a ficar literalmente VAZIAS.
E as que não estão vazias estão desfasadas. Demasiado caras, demasiado formatadas umas com as outras, produto importado da china, ou alta gama do produto português.
Não me ilibo da culpa. Também eu deixei de comprar aqui há muito. Primeiro porque ir a Badajoz era mais barato, depois porque ir a Lisboa era mais divertido, agora porque ir a Castelo Branco é mais perto.
Primeiro porque a aqui o preço não era competitivo, depois porque a oferta é pouca e indiferenciada, e porque em Portalegre, as lojas são hoje um império Chinês.
Mas também não retiro a culpa àqueles que não perceberem que das 9h às 19h não é um horário conveniente para quem trabalha e que compras ao sábado, para quem bebe um copo à sexta-feira à noite, só se fazem da parte da tarde. E também para os que não perceberam que a classe média perdeu poder de compra e por isso havia que apostar em produtos competitivos na sua relação qualidade/preço/design.
Pouco interessa de quem é a culpa. Há uma epidemia crescente de montras vazias na cidade e se o comércio local é o barómetro da vida que pulsa numa comunidade, então pessoal, tragam o desfibrilador.
A nossa cidade está em paragem cardíaca.
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