No cinema o futuro aparece sempre envolto numa névoa de dias escuros, frios e de chuva constante.
As ruas sujas onde as estruturas sociais e as vivências humanas, tal como as conhecemos, coexistem numa espécie de apocalipse atmosférico e na desconstrução daquilo que é humano.
Ou somos invadidos por monstros alienígena, ou completamente subjugados pelas nossas próprias criações.
As personagens do futuro não deixam no entanto de ser humanas, de sofrer e de se arrastarem no mesmo lamaçal de vícios e depressões, de sofrerem e ambiguidades morais ou de se subjugarem ao que tem de ser feito.
Deckard aparece como Sam Spade do futuro e a luta entre o bem e o mal continua, numa espécie de Film Noir de ficção cientifica, onde nem a famme fatale falta.
Mas tal como num Noir os maus criam empatia connosco. Os "replicantes" são maquinas que criaram um espírito e ao descobrirem a inevitabilidade da sua morte, querem fugir-lhe. Quebram as barreiras e tomam-se subitamente da natureza humana. Têm em si uma essência puramente humana.
Na cena final sentimos isso. Empatia.
A maquina reconhece a beleza, sente o tempo, revive as suas memorias. Chora as suas perdas.
Batty: "All those moments will be lost in time...like tears in rain"
Não é o meu género preferido, tenho por vezes alguma dificuldade até em lidar com a estética da ficção cientifica, mas Bladde Runner vai para além de uma visão do mundo do futuro, integra também uma analise daquilo que nos torna humanos, e essa essência não será muito diferente em 2019.
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