Não me incomodam os momentos em si. Tristes ou felizes fazem parte da vida em sociedade, são momentos celebrados ou chorados, vividos dentro de um círculo maior ou mais restrito consoante os protagonistas.
O que me incomoda cada vez mais é o tempo de antena que tais momentos têm nas nossas televisões e, em particular, nos nossos telejornais.
É triste ver profissionais, que deviam estar a fazer notícias, a “encher chouriços” durante largos minutos, tropeçando nas palavras, repetindo lugares comuns e expressões até à exaustão.
Compreendo a curiosidade mórbida das pessoas por certo tipo de acontecimentos, é a natureza humana, mas transmitir em directo - com todos os recursos implicados -horas de perfeito vazio informativo parece-me um contra-senso no momento de crise económica que vivemos.
Horas de imagens que valem zero em termos estéticos e menos que zero em termos informativos, declarações que não acrescentam absolutamente nada, uma total desproporção na atribuição de valor notícia aos acontecimentos.
Os telejornais são, nos dias de hoje, autênticos programas de entretenimento, um show encenado para garantir a maior audiência. É a única explicação para os três canais em sinal aberto decidirem fazer o mesmo tipo de cobertura aberrante de um funeral – de uma figura pública é certo – mas ainda assim, um funeral que é por esta via transformado num show televisivo.
Não tendo televisão por cabo, sobra-nos ver os desenhos animados da RTP2, desligar a televisão ou embrutecer a mente enquanto almoçamos.
Mas se hoje foi um funeral, amanhã espera-nos o casamento Real no Mónaco. E reportando ao recente casamento real britânico, espera-nos um intensivo dia de cobertura do evento, em directo do Mónaco, para onde já se deslocaram as equipas de repórteres. Alguns deles, vindos directamente da Grécia, onde foram relatar confrontos e uma crise sem precedentes. Saltando do terror grego para o glamour do Principado do Mónaco só me apraz dizer que, realmente, o nosso mundo está louco.