Os anos tornam-se cada vez mais diferentes - e difíceis.
Confrontam-me com realidades para as quais muitas vezes não me sinto preparada, que se revestem de uma enorme injustiça ou que, por outro lado, são avassaladoras de tão boas que são.
2011 confrontou-me com a beleza de ver um bebé crescer. Mesmo que de longe, mês a mês. Cada sorriso, cada choro, cada dia é uma emoção. Cada problema, cada necessidade um medo acrescido de nunca vir a ter a disponibilidade emocional para levar a cabo tal empreitada e acabar por ficar assim, para tia.
2011 confrontou-me com o declínio do corpo, o arrastar da mente e o definhar da vida. Os sentimentos contraditórios que nos assolam quando vemos os nossos entes queridos votados a uma cama, sem serem mais senhores de si. Arrancados da sua casa de décadas e, embora tratados dentro das melhores condições possíveis, sentindo-se completamente abandonados.
Não devíamos nunca, jamais viver para além da dignidade do nosso corpo. Grande é esse castigo da natureza.
2011 confrontou-me com novos desafios profissionais, como o medo de falhar, com o prazer de conseguir, com a certeza de que poderemos sempre dar o nosso melhor e sentir prazer nisso. Só precisamos de uma oportunidade.
2011 confrontou-me mais e mais com essa grande verdade: acções têm consequências. E no fim, podemos ser sempre tudo o que quisermos ser, basta só estar disposto a pagar por isso...
2011 confrontou-nos com o medo do futuro. Com a incerteza, a instabilidade e um 2012 obscuro.
2011 confronto-me com o facto de que o mundo tal como o conhecemos pode não ficar para sempre assim. E a mudança é dolorosa, desconcertante, assustadora, imprevisível, todos essas coisas que não queremos na nossa vida.
Ainda não consegui sentir se essa mudança abrupta, apesar de dolorosa, é boa ou não.
2011 confrontou-me mais e mais comigo. EU, a minha vontade, os meus desejos, a minha existência, os meus medos e fraquezas. O difícil, o tão difícil que é dividir-me com alguém, integrar-me no mundo, abdicar, ceder, desejar menos, partilhar mais, ser em comunhão. Olhar o bem comum, aceitar os sacrifícios, esperar por dias melhores...controlar-me, aceitar.
Em 2011 o tempo passou, ainda mais rápido por entre os dedos, como pequenos grãos de areia. E esse sentimento de perda continuou a existir. Porque se há algo que não consigo ainda entender é esse esgotar do tempo, essa perda de possibilidade, a vida que nunca poderemos voltar a viver, a escolha que não podemos voltar a fazer, esse ser finito, limitado, estático que somos, apenas vivendo...
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