segunda-feira, setembro 10, 2012

Divagações sobre o tempo V


E ser for isso que nos espera? Só e apenas a desconstrução do mundo como o conhecemos?

Se já passaram os dias dourados, se depois disto, de toda essa conversa de surdos, se depois do esforço e da indignação não nos sobra mais nada que dias cinzentos de inverno?

E se teremos desde já de sentir falta dos sítios onde nunca fomos, dos sonhos que não concretizamos, dos risos dos momentos de ócio que não poderemos gozar?

E se nos sobra só a depressão dos dias, a poeira de uma Era que nos chegou enganada, fora do seu tempo, indesejada por gerações e empurrada para a frente até ficar encalhada entre nós?

E nós, desencorajados, demasiado conscientes, demasiado instruídos e derrotados apenas possamos nos arrastar pelos anos, maldizendo o destino, sobrevivendo, azedando no espírito a revolta por todas as promessas terem sido quebradas, pelo mundo ser afinal um sitio cruel.

E se é só isso? Aquecimento global, tempestades, secas, desemprego, subnutrição, má educação e um fosso cada vez maior entre esse conceito de ter ou não ter. Ser ou não ser. Privilegiado de nascença ou indecorosamente plebeu?

E se séculos de evolução social desembocarem nessa terrível constatação que somos cada vez mais desiguais?

E se todas essas coisas adquiridas a que nos acostumamos,  todos esses direitos, esses confortos, essas certezas deixarem de o ser?

Que pensaremos então?

E se de facto, nessa organização social, com as evoluções tecnológicas, a sua demografia invertida e este novo modo de vida, não existe por principio mais trabalho para todos?

E se o problema não for a nossa austeridade, mas o mundo. Sim, esse mundo que gira e se transforma e continua a caminhar... não sabe bem para onde... não se sabe bem como...

Esse mundo que ainda descobre que já se fizeram todos os carros, já se construíram todas as casas e os LCDs não podem ficar mais finos?

Esse mundo que ainda descobre que evoluiu tanto, que nos excluiu...

Que pensaremos então? Quem seremos? De que cor será o futuro?

Que poderemos nós continuar a desejar?



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