E depois, depois de termos sido impacientes, pouco disponíveis para os outros, de não termos dado tudo o que poderíamos dar, sobra essa sensação amarga.
Afinal fomos maus, egoístas.
Afinal o mundo só nos quer bem e nós temos um umbigo demasiado grande e absorvente.
Essa descoberta constante da nossa própria falta de altruísmo deixa-nos assim encalhados nos nossos próprios defeitos, aqueles que achávamos que estávamos a limar.
Esses anos todos de lapidação, afinal pouco mais fizeram desse diamante em bruto que é a nossa alma.
Queríamos, de alguma forma que algo nos chegasse sem que tivéssemos de dar algo em troca. O nosso tempo, a nossa boa disposição, a nossa concordância com disparates, a alteração do nosso modo de vida, o nosso espaço.
Queríamos não ter de deitar conversa fora, de não estar à mercê do tempo.
Queríamos por vezes gozar o simples prazer da solidão, o conforto do silêncio. Existir apenas.
Mas temos de ter boa vontade. Ser com os outros, dispor de nós, retribuir, integrar, agradecer...
Às vezes falta-me tudo isso, admito.
Não gosto que falte. Não gosto de ser mal agradecida, de não corresponder... mas não posso, não consigo ser, invariavelmente aquilo que o mundo precisa que eu seja.
1 comentário:
Se implica esforço (boa vontade), então não é verdadeira dádiva. A dádiva nasce de um movimento natural, escapa a qualquer moralidade, é um gesto de pura entrega que encontra realização em si mesmo.
Vivemos nessa oscilação permanente entre aquilo que damos e aquilo que recebemos, sem imposições, não tens que te auto-recriminar. Aliás, se dar exige um dom, na mesma medida, receber também o exige.
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