segunda-feira, junho 30, 2014

“An important question which should be answered; is it possible to be happy and lonely in the meantime?” Camus, A.



Muitas das pessoas que conheço e admiro vivem sós. Não são jovens acabados de sair da adolescência, são adultos com vidas feitas, com percursos profissionais consolidados. São pessoas que têm casa e vivem num ambiente aparentemente cuidado e não num caos da solidão.

São homens e mulheres. São pessoas interessantes. 
São pessoas com histórias, são pessoas vividas. São pessoas cultas e que sabem estar.
Porque é que, no percurso das suas vidas, não encontraram par?

Ser uma família de um, é uma escolha consciente, uma fatalidade, está o amor romântico de facto a morrer, ou andamos demasiado ocupados para o procurar?


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Acontece na vida de todos, acho eu. Momentos de paixão adolescente. Achamos, não, temos a certeza de que encontrámos a nossa alma gémea, que a vida nunca mais poderá ser a mesma após aquela revelação.

Dias de angustias e incertezas, perguntas sem resposta, experimentação, tentativas de ler o futuro em expressões fechadas, preces para que haja do outro lado correspondência e depois, quase invariavelmente, um mar de desilusão. Noites mal dormidas, dias de neblina.

Mas porquê a insistência nesse sentimento pueril, se no fundo, estamos bem como estamos?

É-nos mesmo difícil imaginar que podemos ser felizes percorrendo a vida sozinhos? É-nos mesmo intrínseco sentirmos essas forças de atração, intoleráveis, incontroláveis e na maior parte das vezes totalmente inúteis e não correspondidas?

As paixões são ou não necessárias, podemos eliminá-las? Decidir que não, jamais nos voltaremos a deixar consumir pelo que é na realidade um instinto básico. Um absurdo na sua essência.


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A pergunta que se impõe é então essa precisamos mesmo de outro para sermos felizes? Ou podemos, construindo um caminho consolidado de auto-conhecimento viver uma vida feliz e equilibrada abrindo a porta para uma casa onde não vive mais ninguém?

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Há minha volta constroem-se dois mundos então. O mundo dos que encontraram par, dos que casam, dos que têm filhos e se mudam para a vivenda T3. Uns, mais equilibrados que outros, transformam isso num passo na sua vida, e não a sua vida. Outros não conseguem mais parar de falar em fraldas.

O outro mundo são todos os outros, que continuam a calçar os mesmos ténis de pano para ir aos festivais de verão. A fazer a festa de sábado à noite, talvez de forma mais requintada, mais adulta, mas os mesmo. Viajando no passado iria reconhece-nos a todos há 10 anos atrás.

Tudo isso não é bom, nem é mau. São vidas.

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Na minha vida, questiono-me sempre sobre as possibilidades que não estou a aproveitar. Sobre todos os cenários que estou a perder, sobre os sítios onde havia de ter ido, sobre as escolhas, as pequenas e as grandes que fazemos a cada dia.

As escolhas que fazem com que tropecemos em alguém na esquina de uma rua, ou que a percamos para sempre na curva da vida.

O tempo sempre a atormentar-me. O tempo que passa numa única linha contínua sem possibilidade de retornar.

E depois, à aleatoriedade de tudo isto, resolvemos juntar a irracionalidade de sentimentos básicos. Parece funcionar tão bem para uns, o que falha com os outros?

Cada vez mais convencida…. a vida é mesmo um absurdo….

segunda-feira, junho 09, 2014

"Live fast, worry no more"



Percebi então a dinâmica dessa nova vida. Não ter tempo. 

Não ter tempo de sentar e pensar.

De se olhar no espelho e ver para lá da imagem reflectida.

Não ter tempo de aquecer o lugar no sofá ou de espreguiçar-se pela manhã na cama.

Esse ritmo de entrar e sair deixando apenas o caos à passagem. Passando pela casa em que se habita como se fosse uma qualquer quarto de hotel. Noite a dentro, manhã cedo fora.

Vivendo depressa, saindo. Sempre de saída, sempre com pressa.

Tropeçando no cesto da roupa por passar e olhando com o desdém de quem ainda tem de ir ligar o ferro para depois se afligir tropeçando no cesto da roupa suja a transbordar.

Vivendo depressa, sem tempo de olhar. Abrindo frigoríficos vazios, vendo caixas de fruta mirrada e cada vez menos vontade de pensar.

Dia adentro todo fora.

Sem tempo para pensar, nem resolver problemas pequenos quanto mais para ter problemas filosóficos, amoroso, familiares ou o raio do carro que se avariou na estrada ou a perna que doí acima do joelho ou quem sabe as contas que se acumulam na carteira para pagar.

Viver depressa, num qualquer caos de coisas por fazer, de horas mortas em quilómetros de estrada e um mundo de funções inúteis, que se repetem e que cada vez têm menos sentido.

Mas que interessa o sentido?

Vivendo depressa sem tempo para pensar, o absurdo instala-se.


Não há mais duvida existencial, só uma existência, rápida e sem tempo para se questionar…