Muitas das pessoas que conheço e admiro vivem sós. Não são jovens acabados de sair da adolescência, são adultos com vidas feitas, com percursos profissionais consolidados. São pessoas que têm casa e vivem num ambiente aparentemente cuidado e não num caos da solidão.
São homens e mulheres. São pessoas interessantes.
São pessoas com histórias, são pessoas vividas. São pessoas cultas e que sabem estar.
Porque é que, no percurso das suas vidas, não encontraram par?
Ser uma família de um, é uma escolha consciente, uma fatalidade, está o amor romântico de facto a morrer, ou andamos demasiado ocupados para o procurar?
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Acontece na vida de todos, acho eu. Momentos de paixão adolescente. Achamos, não, temos a certeza de que encontrámos a nossa alma gémea, que a vida nunca mais poderá ser a mesma após aquela revelação.
Dias de angustias e incertezas, perguntas sem resposta, experimentação, tentativas de ler o futuro em expressões fechadas, preces para que haja do outro lado correspondência e depois, quase invariavelmente, um mar de desilusão. Noites mal dormidas, dias de neblina.
Mas porquê a insistência nesse sentimento pueril, se no fundo, estamos bem como estamos?
É-nos mesmo difícil imaginar que podemos ser felizes percorrendo a vida sozinhos? É-nos mesmo intrínseco sentirmos essas forças de atração, intoleráveis, incontroláveis e na maior parte das vezes totalmente inúteis e não correspondidas?
As paixões são ou não necessárias, podemos eliminá-las? Decidir que não, jamais nos voltaremos a deixar consumir pelo que é na realidade um instinto básico. Um absurdo na sua essência.
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A pergunta que se impõe é então essa precisamos mesmo de outro para sermos felizes? Ou podemos, construindo um caminho consolidado de auto-conhecimento viver uma vida feliz e equilibrada abrindo a porta para uma casa onde não vive mais ninguém?
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Há minha volta constroem-se dois mundos então. O mundo dos que encontraram par, dos que casam, dos que têm filhos e se mudam para a vivenda T3. Uns, mais equilibrados que outros, transformam isso num passo na sua vida, e não a sua vida. Outros não conseguem mais parar de falar em fraldas.
O outro mundo são todos os outros, que continuam a calçar os mesmos ténis de pano para ir aos festivais de verão. A fazer a festa de sábado à noite, talvez de forma mais requintada, mais adulta, mas os mesmo. Viajando no passado iria reconhece-nos a todos há 10 anos atrás.
Tudo isso não é bom, nem é mau. São vidas.
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Na minha vida, questiono-me sempre sobre as possibilidades que não estou a aproveitar. Sobre todos os cenários que estou a perder, sobre os sítios onde havia de ter ido, sobre as escolhas, as pequenas e as grandes que fazemos a cada dia.
As escolhas que fazem com que tropecemos em alguém na esquina de uma rua, ou que a percamos para sempre na curva da vida.
O tempo sempre a atormentar-me. O tempo que passa numa única linha contínua sem possibilidade de retornar.
E depois, à aleatoriedade de tudo isto, resolvemos juntar a irracionalidade de sentimentos básicos. Parece funcionar tão bem para uns, o que falha com os outros?
Cada vez mais convencida…. a vida é mesmo um absurdo….