Percebi então a dinâmica dessa nova vida. Não ter tempo.
Não
ter tempo de sentar e pensar.
De se olhar no espelho e ver para lá da imagem reflectida.
Não ter tempo de aquecer o lugar no sofá ou de espreguiçar-se
pela manhã na cama.
Esse ritmo de entrar e sair deixando apenas o caos à
passagem. Passando pela casa em que se habita como se fosse uma qualquer quarto
de hotel. Noite a dentro, manhã cedo fora.
Vivendo depressa, saindo. Sempre de saída, sempre com
pressa.
Tropeçando no cesto da roupa por passar e olhando com o desdém
de quem ainda tem de ir ligar o ferro para depois se afligir tropeçando no
cesto da roupa suja a transbordar.
Vivendo depressa, sem tempo de olhar. Abrindo frigoríficos vazios,
vendo caixas de fruta mirrada e cada vez menos vontade de pensar.
Dia adentro todo fora.
Sem tempo para pensar, nem resolver problemas pequenos
quanto mais para ter problemas filosóficos, amoroso, familiares ou o raio do
carro que se avariou na estrada ou a perna que doí acima do joelho ou quem
sabe as contas que se acumulam na carteira para pagar.
Viver depressa, num qualquer caos de coisas por fazer, de
horas mortas em quilómetros de estrada e um mundo de funções inúteis, que se
repetem e que cada vez têm menos sentido.
Mas que interessa o sentido?
Vivendo depressa sem tempo para pensar, o absurdo
instala-se.
Não há mais duvida existencial, só uma existência, rápida e
sem tempo para se questionar…
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