E ainda não me refiz de ter nascido.
Ainda não defini o divino e estou tentada a não o acreditar…
estranho, como sempre vivi uma vida tão secular e, no entanto, o mundo a rodar
tantas atrocidades a acontecer, esta ideia tão clara que não sei em que
acreditar, por vezes a certeza de que não há como acreditar.
A minha fase
existencialista a resvalar para um ateísmo embaraçado, ainda pouco informado,
mas latente… fase que ao me afastar de qualquer tipo de pensamento religioso, coloca
a questão da religião num centro nevrálgico onde ela nunca esteve na minha
vida.
Não desisti do amor, mas defini-o de tantas outras maneiras
que ás vezes acho que não vou encontrar ninguém que me possa amar. Neste mundo
de Egos, o teu e o meu, o de todos nós, nem sei bem como tal coisa se processa,
qual o processo químico, de que silêncio abdicar, o que dar mais. O cinismo
nessa área não é mais latente, instalou-se. Das minhas paixões platónicas sai
pouco amor. Não sei ainda se sou eu que não sei dar, ou se não sei receber. Se os dois...
Ainda não me sinto em casa. Em lado nenhum, exceto quando me
cheira a mar. E nestas três décadas esta é a casa mais perto do mar que alguma
vez tive.
Não estou apaixonada pelo dia-a-dia. Elevo-me do tédio
existencial a todo o momento para simplesmente viver, como que nunca refeita de
uma promessa gloriosa que nunca se cumpriu, parecia haver mais para viver
enquanto crescia. Fazer as pazes com o quotidiano, como os movimentos
pendulares dos dias, com o almoço e o jantar é difícil, assim como é difícil
focar a mente numa qualquer tarefa que exija 8 horas por dia. O trabalho no
formato em que ele existe é algo de anti-natural para mim.
Insurgi-me com mais força contra os fretes… faço-os cada vez
menos. Compreendo, de forma clara que mesmo que seja intangível o tempo é a
coisa mais preciosa que tenho. O tempo que por estes dias se sente a passar
como areia fina a escorrer por entre os dedos.
Por isso toda e qualquer perda é demais. Por isso o tempo
que damos aos outros é uma dádiva maior, e o tempo que os outros nos dão uma
oferta que devemos receber com o coração.
Não aceitei ainda por completo essa coisa do tempo, e
continuo a senti-lo em perda diária. De todas as possibilidades que não se
materializam e de todas as escolhas que não faço. Idealmente viveríamos em
realidades paralelas, a sermos tudo aquilo que poderíamos ser, a melhor versão
de nós sempre em teste.
Mas aos 32 anos acho que posso aceitar a transformação do
tempo em memórias. A vida que já se pode contar, nem tudo aconteceu ontem, nem
toda a gente se conhece de agora. E isso também é uma dádiva.
Por isso a poucos dias dos 32 anos, nesse estado de alma algo
adolescente que não se desprende de mim, acho que sou melhor pessoa do que era
aos 22.
Prometo-me tentar ser melhor aos 42.
Talvez nunca venha a saber bem o que quero… mas por esta
altura vou tendo ideias claras do que não quero.
Aos 32 anos, parece-me um avanço!
P.S. Percebi agora que o Blogue faz em agosto 10 anos... é de alguma forma assustador...