Primeiro habitamos um corpo, depois uma casa, uma rua, uma vila, uma região, um país e o mundo.
Habitar, não quer dizer existir, nem fazer parte. Podemos viver a vida todo num corpo que ignoramos, numa terra que desconhecemos, viver sem nos envolvermos numa comunidade. Estamos, ocupamos espaço.
Eu preciso de habitar espaços que me reflictam. Um corpo que não se dissocie da minha mente, casas cujas paredes me relaxem perante a visão de coisas familiares, terras que possam matar a sede de estar só ao mesmo tempo que alimentam a fome de multidão.
A terra pequena não faz uma coisa nem outra. Nunca estamos sós numa rede familiar que se ocupa de nós, e nunca estamos emersos numa multidão que não existe. Um paradoxo, aqui onde me devia sentir relaxada e descansada sinto-me mais cansada que nunca.
As casas que são habitadas por várias pessoas nunca caiem no esquecimento dos dias, não há penumbras familiares e os objectos nunca são abandonados à mercê do tempo. A co-vivência em consciência obriga-nos a pensar no espaço dos outros e nunca termos um momento de autêntica redenção. O deixar estar fora da ordem universal, viver com os outros é manter a vida arrumada numa certa disposição.
Não se deixa o jantar para um tempo indefinido, nem se abre uma garrafa para degustar a solidão quando há com quem a partilhar. O rádio luta com a televisão, as janelas trocam-se com portas na luta das correntes de ar que não agradam a todos. E morrem-nos as brisas frescas na pele trocadas por ares estagnados.
sexta-feira, março 15, 2024
Viver com os outros...
A falta que nos faz o silêncio...
Publicada por Angie Mendes à(s) 9:38 da manhã
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