Portalegre

Hoje sai para correr… Corri até me cansar e depois caminhei por esta minha cidade.
Depois de um dia de intensa chuva Portalegre estava lavada, brilhante. Aquele cheiro de coisas pelo ar, de castanhas assadas no Rossio, de folhas molhadas caídas na terra na corredora, de vento vindo da Penha na rua que vai do Rossio para o Semeador.
Cheiros juntos, cheiro a Portalegre.

Percorri tantas ruas que dei a volta à terra. Vi as planícies sem fim ao sul, ladeadas de nuvens escuras que deixavam trespassar o sol lá longe perto do mar. Vi do outro lado as matas densas, pintalgadas de casinhas, que sobem a encosta da serra. Vi ainda a Penha, aquele monte imponente que se ergue para o céu no vazio, percorrida pela escadaria que dá para aquela igrejinha, simbólica, sempre fechada, apenas e só a Penha…

Senti o vento no rosto ao subir por entre a parte velha, de ruas estreitas, de casas velhas, escuras das histórias que têm para contar. Da muralha que foi agora posta à mostra, vê-se telhados e espreita-se as janelas indiscretas dos outros, as janelas que não se viam antes…
Tudo um fascínio, este meu fascínio por esta terra, por estes cheiros, pela certeza que nasci noutro lado, mas devia ter nascido aqui.

Porque de todo o lado me chega estranheza das coisas que conheço, como se todos os dias nascesse uma planta nova naquela estrada por onde passo, e isso fosse sempre uma descoberta. A descoberta que é viver em algum lado, apreendê-lo todos os dias de uma maneira nova, estimá-lo e por fim senti-lo assim, esta é a minha terra!
Portalegre é linda, na sua ruralidade, na sua urbanidade, no seu lugar no sopé da serra como soberana da planície…