Não se conseguia satisfazer…
Pensava sempre no mundo de coisas que ainda não conhecia, sentia aquela sensação de perda em relação a tudo o que já passara, aquela estranha certeza de que algo não volta mais. Não imaginava assim a vida, como pedaços estanques de tempo, etapas, fases, ocasiões. Tudo devia ser um todo, e como num DVD deveríamos poder fazer zapping entre as cenas, devíamos ter acesso aos extras, devíamos poder controlar tudo, saber de tudo, devíamos poder ir construindo o making of da nossa vida, e vê-la de vez em quando como se de um trailer se tratasse.
Mas não, a consciência do tempo a passar apoderara-se dela, tempo estanques como barreiras, dias, semanas, meses, anos, tudo bem delimitado e marcado por um calendário cruel, imparável.
Ia guardando meticulosamente fotografias, vídeos, bilhetes, cartões tudo o que lhe permitisse montar às peças um passado e construir com referências um futuro. Como se de um lego se tratasse.
Mas não se satisfazia.
O tempo a passar parecia uma maldição, nunca chegava para apreciar as coisas boas. Era sempre demasiado longo para as coisas más.
Maria sentia-se assim, perdida.
Viajava só, por estradas desconhecidas, levava a janela aberta por onde entrava uma brisa fresca de fim de tarde, o sol punha-se atrás de si em cores múltiplas de beleza.
“Amanha será um dia quente!” é o que nos diz o céu.
Mas amanhã o que será?
Não dá para adiantar a cena!
Mais um dia vazio, mais uma grande perda de tempo? Ou simplesmente haverá algum mar de emoções? Poderá ser amanhã um dia memorável, valerá a pena recortar pedaços dele e colocar na gaveta das memórias?
Maria não sabia, sentia-se angustiada.
Tirara aqueles dias só para si, para fechar etapas, para reconhecer finalmente que não tinha controle sobre o tempo que passava. Havia tantas gavetas cheias de recortes, tantas colagens por acabar, tantas memórias a necessitarem de um comentário, tantas imagens do making of para montar.
Queria deixar a folha em branco.
Fechar de vez aquele livro velho cheio de sensações. Boas, más, assim-assim. Fantasmas na sua maior parte, fantasmas que lhe assombravam os dias e os momentos de silêncio insistentemente.
Compreendera ao fim de tantos anos, que não poderia nunca sentir todas as sensações, que não poderia nunca ir a todos os lados, conhecer todas as pessoas, compreendera ao fim de tantas anos a sua pequenez, a sua fonte de insatisfação.
Queria deixar de ser aquela mulher errante, queria fechar o ciclo, queria ser feliz nas pequenas coisas…
Avançava por uma estrada ladeada de pinhal denso, não sabia bem onde a levava. Mas não interessava, estava de férias, tinha o depósito cheio e só procurava um lugar, a paz interior.
O sol desaparecia já totalmente no horizonte criando aquela ponte pálida entre o dia e a noite…
Correu uma lágrima pelo seu rosto…
“Arrumar as gavetas dói, é como se vivêssemos tudo de novo”. Pensou, por entre sorrisos e apertos no coração, por entre a tristeza profunda e a felicidade extrema, por entre aquele turbilhão de coisas que foi sentido, Maria estava ali, a controlar a sua vida. A vê-la, a revê-la, a avaliá-la, a perdoar e a perdoar-se.
Estava ali a explicar-se, a entender-se…
Continuou de viagem durante largas horas.
Parou exausta, extasiada. Procurou onde dormir.
Deixou-se cair em cima da cama com um desalento próprio de quem encontrou aquilo que procurava, e ao faze-lo compreendeu que isso esteve sempre ali, à sua mão.
Bastou parar.
Bastou sentir-se, remexer nos seus pedaços, estava tudo ali. Afinal poderia viajar na sua vida sempre que pretendesse, a sua vida era ela e ela estava ali…
Havia coisas más, coisas boas e coisas assim-assim.
Não sabia dizer se estava satisfeita, mas pela primeira vez na vida sentiu um prazer subtil em adormecer, como se nada no mundo fosse melhor do que deixar-se ir lentamente do mundo real para o imaginado. Sem pressas, sem perdas, sem pensar no ontem nem no amanha…
Pensava sempre no mundo de coisas que ainda não conhecia, sentia aquela sensação de perda em relação a tudo o que já passara, aquela estranha certeza de que algo não volta mais. Não imaginava assim a vida, como pedaços estanques de tempo, etapas, fases, ocasiões. Tudo devia ser um todo, e como num DVD deveríamos poder fazer zapping entre as cenas, devíamos ter acesso aos extras, devíamos poder controlar tudo, saber de tudo, devíamos poder ir construindo o making of da nossa vida, e vê-la de vez em quando como se de um trailer se tratasse.
Mas não, a consciência do tempo a passar apoderara-se dela, tempo estanques como barreiras, dias, semanas, meses, anos, tudo bem delimitado e marcado por um calendário cruel, imparável.
Ia guardando meticulosamente fotografias, vídeos, bilhetes, cartões tudo o que lhe permitisse montar às peças um passado e construir com referências um futuro. Como se de um lego se tratasse.
Mas não se satisfazia.
O tempo a passar parecia uma maldição, nunca chegava para apreciar as coisas boas. Era sempre demasiado longo para as coisas más.
Maria sentia-se assim, perdida.
Viajava só, por estradas desconhecidas, levava a janela aberta por onde entrava uma brisa fresca de fim de tarde, o sol punha-se atrás de si em cores múltiplas de beleza.
“Amanha será um dia quente!” é o que nos diz o céu.
Mas amanhã o que será?
Não dá para adiantar a cena!
Mais um dia vazio, mais uma grande perda de tempo? Ou simplesmente haverá algum mar de emoções? Poderá ser amanhã um dia memorável, valerá a pena recortar pedaços dele e colocar na gaveta das memórias?
Maria não sabia, sentia-se angustiada.
Tirara aqueles dias só para si, para fechar etapas, para reconhecer finalmente que não tinha controle sobre o tempo que passava. Havia tantas gavetas cheias de recortes, tantas colagens por acabar, tantas memórias a necessitarem de um comentário, tantas imagens do making of para montar.
Queria deixar a folha em branco.
Fechar de vez aquele livro velho cheio de sensações. Boas, más, assim-assim. Fantasmas na sua maior parte, fantasmas que lhe assombravam os dias e os momentos de silêncio insistentemente.
Compreendera ao fim de tantos anos, que não poderia nunca sentir todas as sensações, que não poderia nunca ir a todos os lados, conhecer todas as pessoas, compreendera ao fim de tantas anos a sua pequenez, a sua fonte de insatisfação.
Queria deixar de ser aquela mulher errante, queria fechar o ciclo, queria ser feliz nas pequenas coisas…
Avançava por uma estrada ladeada de pinhal denso, não sabia bem onde a levava. Mas não interessava, estava de férias, tinha o depósito cheio e só procurava um lugar, a paz interior.
O sol desaparecia já totalmente no horizonte criando aquela ponte pálida entre o dia e a noite…
Correu uma lágrima pelo seu rosto…
“Arrumar as gavetas dói, é como se vivêssemos tudo de novo”. Pensou, por entre sorrisos e apertos no coração, por entre a tristeza profunda e a felicidade extrema, por entre aquele turbilhão de coisas que foi sentido, Maria estava ali, a controlar a sua vida. A vê-la, a revê-la, a avaliá-la, a perdoar e a perdoar-se.
Estava ali a explicar-se, a entender-se…
Continuou de viagem durante largas horas.
Parou exausta, extasiada. Procurou onde dormir.
Deixou-se cair em cima da cama com um desalento próprio de quem encontrou aquilo que procurava, e ao faze-lo compreendeu que isso esteve sempre ali, à sua mão.
Bastou parar.
Bastou sentir-se, remexer nos seus pedaços, estava tudo ali. Afinal poderia viajar na sua vida sempre que pretendesse, a sua vida era ela e ela estava ali…
Havia coisas más, coisas boas e coisas assim-assim.
Não sabia dizer se estava satisfeita, mas pela primeira vez na vida sentiu um prazer subtil em adormecer, como se nada no mundo fosse melhor do que deixar-se ir lentamente do mundo real para o imaginado. Sem pressas, sem perdas, sem pensar no ontem nem no amanha…
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