segunda-feira, abril 14, 2008

Italiano para Principiantes

Houve uns tempos em que andava maravilhada com a obra de Lars Von Trier.
Começando pelas Ondas de Paixão, filme pescado numa prateleira de videoclube cuja validade do aluguer conferenciei pelo telefone há uns anos, passando pelo Elemento do Crime ou o Dancer in the Dark terminando no magistral Dogville.

Na altura, e penso que mesmo agora, não compreendia a o alcance dessa coisa “parida” por Trier e o Thomas Vinterberg, o Dogma 95.

Por isso foi uma surpresa quando, ao investigar sobre este filme me dei conta de que Italiano para Principiantes é efectivamente parte deste movimento. O primeiro a ser filmado por uma mulher, Lone Scherfig e o 12º filme certificado por este movimento Dinamarquês fundado em 1995.

E foi uma surpresa porque ao contrário dos filmes que vi anteriormente, este Italiano para Principiantes não é um filme claustrofóbico, onde a acção se desenrola lentamente sem entusiasmos.


Em Ondas de Paixão e Dogville, todo o filme se desenrola com vista a um final em êxtase, mas o filme em si é por vezes uma tormenta, porque é lento e agonizante. Não existe como uma peça de entretenimento, toda a sequência de imagens e acontecimentos que nos são dados em forma “bruta e crua” existem apenas para a apoteose final, aquela mensagem que no fim acaba sempre por justificar duas horas e meia de filme, quase sempre desconfortáveis, quase sempre provocando desistência de alguns espectadores no intervalo. No entanto essa dificuldade em compreender e apreciar o filme torna-o um objecto de arte inestimável. Custa quase sempre, mas chegar ao fim de Dogville e compreender a dureza e a verdade daquele é indescritível.

Mas este Italiano para Principiantes, apesar de nostálgico e solitário, de uma iluminação rudimentar, de cenários pouco apelativos, tem um argumento de uma simplicidade desarmante. E de uma beleza que provoca um misto de desilusão com a vida e de esperança no dia de amanha.

Se em termos técnicos este é um filme seguidor do “Dogma 95”, a sua mensagem transporta-nos para lugares diferentes.

Afinal, a rigidez das normas, a simplicidade das técnicas usadas e a crueza da realidade exposta sem artifícios não é de todo uma barreira à criação artística.
E do Dogma 95 pode, afinal, sair uma comédia romântica, que longe do ser, poderia bem ser uma comédia "Hollywoodesca”.


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