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Começando pelas Ondas de Paixão, filme pescado numa prateleira de videoclube cuja validade do aluguer conferenciei pelo telefone há uns anos, passando pelo Elemento do Crime ou o Dancer in the Dark terminando no magistral Dogville.
Na altura, e penso que mesmo agora, não compreendia a o alcance dessa coisa “parida” por Trier e o Thomas Vinterberg, o Dogma 95.
Por isso foi uma surpresa quando, ao investigar sobre este filme me dei conta de que Italiano para Principiantes é efectivamente parte deste movimento. O primeiro a ser filmado por uma mulher, Lone Scherfig e o 12º filme certificado por este movimento Dinamarquês fundado em 1995.
E foi uma surpresa porque ao contrário dos filmes que vi anteriormente, este Italiano para Principiantes não é um filme claustrofóbico, onde a acção se desenrola lentamente sem entusiasmos.
Em Ondas de Paixão e Dogville, todo o filme se desenrola com vista a um final em êxtase, mas o filme em si é por vezes uma tormenta, porque é lento e agonizante. Não existe como uma peça de entretenimento, toda a sequência de imagens e acontecimentos que nos são dados em forma “bruta e crua” existem apenas para a apoteose final, aquela mensagem que no fim acaba sempre por justificar duas horas e meia de filme, quase sempre desconfortáveis, quase sempre provocando desistência de alguns espectadores no intervalo. No entanto essa dificuldade em compreender e apreciar o filme torna-o um objecto de arte inestimável. Custa quase sempre, mas chegar ao fim de Dogville e compreender a dureza e a verdade daquele é indescritível.
Mas este Italiano para Principiantes, apesar de nostálgico e solitário, de uma iluminação rudimentar, de cenários pouco apelativos, tem um argumento de uma simplicidade desarmante. E de uma beleza que provoca um misto de desilusão com a vida e de esperança no dia de amanha.
Se em termos técnicos este é um filme seguidor do “Dogma 95”, a sua mensagem transporta-nos para lugares diferentes.
Afinal, a rigidez das normas, a simplicidade das técnicas usadas e a crueza da realidade exposta sem artifícios não é de todo uma barreira à criação artística.
E do Dogma 95 pode, afinal, sair uma comédia romântica, que longe do ser, poderia bem ser uma comédia "Hollywoodesca”.
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