A vida dá umas voltas estranhas, destrói-nos as certezas
expõe-nos aos fracassos e no entanto continua a abrir caminho para novos
desafios.
Começar de novo é por isso a palavra de ordem.
A horta no terraço foi durante mais de um ano o meu
passatempo preferido. Lembro-me das grandes alegrias. Da primeira alface
colhida, dos morangos que surgiam espaçados, vermelhos, pequenos e muito doces.
Das saladas de verão com tomates que fiz crescer de pequenas
sementes. As ervas de cheiro, a hortelã, um mundo de cheiros pela manhã depois
da rega.
As preocupações dos fins-de-semana fora, a razia que foram
as férias, e mesmo assim com muito cuidado e carinho consegui recuperar os
morangueiros, replantar as alfaces, num movimento perpétuo de dar e receber
para com a terra. Pouca, nos meus vasos, um cantinho de mundo.
Operou-se então uma mudança de casa, um abandono vergonhoso
do meu trabalho, um momento de inaptidão para dar e receber e a horta padeceu
pela falta de água e de cuidados.
Os gatos fizeram o resto e transformaram os meus vasos numa
casa de banho de luxo.
Mas vou começar de novo. Recuperei os vasos, estou a planear
espaços. Hoje comprei o substrato, uns pés de alface.
Nem tudo tem remédio e os meus morangueiros não terão nova
vida. Mas outros nascerão em seu lugar.
Não é a melhor altura para plantar, fazer nascer… mas também
isso é um desafio. Planear, montar, esperar que cresça, ver o mundo a tomar forma.
Tudo a renascer.