quarta-feira, junho 27, 2012

Horta no Terraço Série II




A vida dá umas voltas estranhas, destrói-nos as certezas expõe-nos aos fracassos e no entanto continua a abrir caminho para novos desafios.

Começar de novo é por isso a palavra de ordem.

A horta no terraço foi durante mais de um ano o meu passatempo preferido. Lembro-me das grandes alegrias. Da primeira alface colhida, dos morangos que surgiam espaçados, vermelhos, pequenos e muito doces.

Das saladas de verão com tomates que fiz crescer de pequenas sementes. As ervas de cheiro, a hortelã, um mundo de cheiros pela manhã depois da rega.

As preocupações dos fins-de-semana fora, a razia que foram as férias, e mesmo assim com muito cuidado e carinho consegui recuperar os morangueiros, replantar as alfaces, num movimento perpétuo de dar e receber para com a terra. Pouca, nos meus vasos, um cantinho de mundo.

Operou-se então uma mudança de casa, um abandono vergonhoso do meu trabalho, um momento de inaptidão para dar e receber e a horta padeceu pela falta de água e de cuidados.

Os gatos fizeram o resto e transformaram os meus vasos numa casa de banho de luxo.

Mas vou começar de novo. Recuperei os vasos, estou a planear espaços. Hoje comprei o substrato, uns pés de alface.

Nem tudo tem remédio e os meus morangueiros não terão nova vida. Mas outros nascerão em seu lugar.

Não é a melhor altura para plantar, fazer nascer… mas também isso é um desafio. Planear, montar, esperar que cresça, ver o mundo a tomar forma.

Tudo a renascer.

terça-feira, junho 19, 2012

Meu Mundo em desconstrução...




A certeza das coisas deixou de ser o dia-a-dia. O toque do despertador é igual, mas o vazio, a ausência e a incerteza é algo completamente novo.

Houve tempos em que achei que a total autonomia devia ser bom, o livre arbítrio, a ausência de culpas para com os outros, a não justificação. Mas na verdade ser-se só, deambulando pode ser também uma desconstrução de nós, a perda de propósito, a ausência de significado, um enorme vazio.

Há dias em que o vazio é uma folha em branco. A folha em branco é esperança. É um mundo que se pode escrever, é um caminho novo que se pode trilhar. É tudo aquilo que quisermos que seja.

Noutros a folha em branco é pura angustia. Sincera impotência para a preencher.

Á minha volta nada mais é como era suposto ser, nas noticias o mundo está prestes a derrocar, os anos ficam para trás sem se cumprirem, e eu, descobri que não sei nada sobre mim.

Havia uma voz de fundo, que me recusei a ouvir, que foi crescendo, crescendo até não se aguentar mais. 

Crise, com letras garrafais. Que se lixe a deles. A crise está realmente em mim. Nas certezas que passaram a ser dúvidas.

Num futuro conhecido estilhaçado e numa busca que parecia resolvida mas que só agora começou.

Um pântano, portanto. Um daqueles algo juvenil, uma crise de meia-idade na juventude. Uma porta aberta para livros obscuros, torpores alcoólicos e muitas horas de prostração solitária olhando janelas abertas para o mundo.

Se no fim, dos cacos se fizer vida, vale a pena sempre mudar, sofrer e cumprir o nosso desígnio de insatisfação.

Se assim for, que se destrua o mundo. Com raiva…