A certeza das coisas deixou de
ser o dia-a-dia. O toque do despertador é igual, mas o vazio, a ausência e a
incerteza é algo completamente novo.
Houve tempos em que achei que a
total autonomia devia ser bom, o livre arbítrio, a ausência de culpas para com
os outros, a não justificação. Mas na verdade ser-se só, deambulando pode ser
também uma desconstrução de nós, a perda de propósito, a ausência de
significado, um enorme vazio.
Há dias em que o vazio é uma
folha em branco. A folha em branco é esperança. É um mundo que se pode
escrever, é um caminho novo que se pode trilhar. É tudo aquilo que quisermos
que seja.
Noutros a folha em branco é pura
angustia. Sincera impotência para a preencher.
Á minha volta nada mais é como
era suposto ser, nas noticias o mundo está prestes a derrocar, os anos ficam
para trás sem se cumprirem, e eu, descobri que não sei nada sobre mim.
Havia uma voz de fundo, que me
recusei a ouvir, que foi crescendo, crescendo até não se aguentar mais.
Crise, com letras garrafais. Que
se lixe a deles. A crise está realmente em mim. Nas certezas que passaram a ser
dúvidas.
Num futuro conhecido estilhaçado
e numa busca que parecia resolvida mas que só agora começou.
Um pântano, portanto. Um daqueles
algo juvenil, uma crise de meia-idade na juventude. Uma porta aberta para
livros obscuros, torpores alcoólicos e muitas horas de prostração solitária olhando
janelas abertas para o mundo.
Se no fim, dos cacos se fizer
vida, vale a pena sempre mudar, sofrer e cumprir o nosso desígnio de
insatisfação.
Se assim for, que se destrua o mundo. Com
raiva…
2 comentários:
Excelente texto!!! Partilho, feliz ou infelizmente!
Excelente texto. Partilho, feliz ou infelizmente!!!
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