Voltar a casa é sempre esse novelo de sensações. Os lugares que conhecemos, as pessoas com quem já partilhamos coisas, um misto de cumplicidade e desconhecimento total de vidas que continuaram a decorrer sem nós.
Pensamos por momentos no que poderia ter sido se nos tivéssemos abandonado por ali. Vivendo essa outra vida. Indo a todos aqueles lugares, sendo outras pessoas.
Quem seriamos? Se poderíamos pensar assim, ouvir as mesmas músicas? Ter lido os mesmos livros?
Teríamos outros amigos, seríamos mais ou menos conscientes de nós, teríamos mais vida familiar?
Todas essas perguntas por responder, olhando a ansiedade com que nos recebem.
Como se recebe alguém que abalou há tanto tempo, alguém que nunca chega realmente a estar.
A quem se fazem perguntas de circunstância, de quem se gosta realmente muito, mas que nunca chegamos realmente a conhecer.
E todos esses olhares de interrogação quando se conta as novidades, essa mística que tentamos impor às nossas vidas, contando tudo ligeiramente melhor do que aquilo que é. Os olhares de desapontamento ou de admiração...
Os lugares da infância são assim.
Um misto entre o sitio onde queremos muito voltar e o sitio de onde gostaríamos de fugir.
O sitio de tantas promessas por cumprir, onde o espelho nos devolve essa outra imagem, gravada há anos daquilo que achávamos que poderíamos ser...
Somos sempre, invariavelmente diferentes.
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