Podia ter sido ontem, esse fim de Setembro já tão longínquo.
Numa dessas semanas de tempo instável, de chuvas torrenciais
seguidas por um sol aberto e franco. Chegando aqui. Podia estar a ser agora.
O olhar espantado sobre esse mundo todo novo, sobre as
possibilidades que se abriam por debaixo dos nossos pés.
Os sonhos a caminharem para se tornarem realidade.
O mundo novo, a liberdade, a escolha, o tempo por nossa
conta, só e apenas nosso para fazermos dele o que se quisesse.
Podia estar a ser ainda hoje, essa menina chegando de cabelo
apanhado e maquilhagem exagerada. Enxergando-se nesses trapos antigos e
ultrapassados, essa expressão de si.
Podia estar as sentir ainda essa sensação doce de colocar a
chave na porta de casa, da madrugada e do nevoeiro húmido que subia pelas ruas,
e as luzes, as luzes baças, alaranjadas reflectindo nas pedras da calçada.
Podia estar a ser ainda, as nossas vidas congeladas nesse
plano, todo o tempo ainda para percorrer o caminho, todas as decisões para
serem tomadas, todas as oportunidades ainda à espera para serem nossas.
Podíamos eternamente viver nesse estado de latente euforia,
ser jovens. Ser mais que jovens, ser estreantes, ser enérgicos e esperançados,
ser sem sombra de dúvida algo que ainda está para acontecer.
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