Estou ainda maravilhada com esse milagre: o corpo.
O meu, que me responde, que doí. Que está vivo.
Que insiste e prevalece, que quer estar sempre à altura da minha mente, que insiste em não me
desapontar, mesmo que doa, mesmo que pareça demais, mesmo que o instinto seja
parar, gritar e desistir.
E nesse ponto nos encontramos, sendo o equilíbrio ténue mas
estável, sendo ao fim de tantos anos uma coisa só. Eu.
Tendo a certeza de que esta é a mais perfeita projecção que
existe de mim. Sem pesos, sem massa, equilibrando-se nas falhas, encontrando nos
limites a compreensão.
Algo que eu posso esticar, trabalhar e sentir. Um corpo em que confiar, o meu.
Imperfeito, caprichoso, tão humano como todos os outros. Pronto a falhar, a ser doente...a abandonar-me e morrer.
Mas meu, sendo eu. Aqui e agora cheio de vida!
E ao fim de tantos anos de incerteza, de conflito e de luta, de imagens distorcidas e de ideias desfocadas, a paz enfim.
Porque corremos juntos. Sempre.
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