quarta-feira, novembro 21, 2012

Divagações sobre o amor II



"Ainda sentes o que poderíamos ter sido? Todos esses lugares onde não fomos, as palavras que ficaram por dizer? Esses momentos todos só vividos dentro de nós, num qualquer recanto de uma sala de espera, quando sonhar ainda era permitido?

Ou apenas te perseguem as sombras dos dias feios? Desses pecados que cometemos, dos nossos lados negros se confrontando...Os silêncios obscenos, as ideias a fugirem de nós, a quedarem-se esmorecendo, perdendo sentido, cessarem por fim.

Olhas para trás e encontras apenas destroços de ti, misturados com as ruínas de nós. Essa obra sempre em construção, sempre em aperfeiçoamento, sempre perdida de exaustão.

E depois esse outro lado, esse teu lado absurdo de ser, ainda o vês a tomar conta de ti? Esse ser expectante, sempre a desejar mais, impaciente, curioso, sempre insatisfeito...inquietante.

Que vês desse ponto agora? Agora que parece não mais importar. Agora que se disseram os imperdoáveis, que se fizeram as coisas impensáveis.

Que vês agora? para além dessa vontade metafórica de morrer e nascer noutro lado, sendo qualquer outra coisa, existindo para lá desse fracasso.

Porque no esgotar das palavras surge esse fracasso. De todos os esforços, do empenho, de tudo o que foi sincero, ansiado e vivido.

Um enorme fracasso, um mundo destroçado. Ruínas.

Poderias pensar em tantas outras coisas. Mas amei-te. Muito, tanto, todos os dias, mesmo naqueles em que te odiei visceralmente.

Porque não existe em mim apenas luz,  a minha inquietação é cheia de recantos feios, de sentimentos obscuros. A luta é constante... não sou boa de natureza, mas sei. Posso ser melhor, posso racionalizar-me, posso recalcular-me....

Posso um dia superar esse fracasso. Quem sabe, um dia perdoar-me por ter fracassado. Por não ter sido boa o suficiente. Não fui boa o suficiente na maior parte das vezes...

Eu sei."









Sem comentários: