Dizer adeus, mesmo que seja apenas um até breve nunca é fácil, já devia saber.
Já devia conseguir aceitar.
Eu, que sempre vivi entre casas. Entre famílias. Entre férias e meses de escola. Eu e as escovas de dentes espalhadas pelos distritos, uma vida de malas feitas, de momentos de ausência, de coisas irrecuperáveis, perdidas.
E ainda assim, dizer este adeus foi mais doloroso, o mais sentido, será talvez mais longo até breve dito até aqui.
Sempre adorei a minha mana mais velha. Sempre. E sempre vivemos separadas. E mesmo assim, pude estar sempre lá.
No primeiro dia da escola. Quando entrou para a universidade, quando arranjou o primeiro emprego, quando nasceu o primeiro filho....
Não vou estar quando nascer o segundo, desta vez é longe a distância...dói de pensar nos meses, nos anos de primeiras coisas que não vou ver... Essa perda, de todas as oportunidades, de sorrisos, de pequenas zangas...essas palavras esquisitas e as reconciliações.
Todas as vezes que rimos até nos doer a barriga, quando choramos sem razão, quando sorrimos de alegria.
A vida vai fluir, acontecer. Lá longe, entre ecrãs. Cresceremos sendo diferentes.
O meu puto vai crescer ouvindo apenas o meu eco.
Lembrar-se-á que acordava a tia pela manhã com pequenos gritinhos de alegria? Verá fotos um dia.
Um inverno, naquele que aconteceu a maior tempestade de neve de sempre, a tia veio. Brincou no tapete da sala, cantou bossa nova para o menino dormir, acordou pela manhã com um abraço cheio de energia...
Porra, posso chorar o resto da viagem, posso fazer o avião todo se comover com a minha nostalgia... Estou em perda.
Merda, só podemos viver uma vida... Só podemos estar num sítio, ser uma vez. Escolher, sabendo da perda, sabendo como poderia ser diferentes tudo o resto, todas as outras opções, as outras vidas que podíamos estar a viver.
Devíamos esquecer...devíamos ser felizes na ignorância dos nossos dias.
Nunca, sinto...poderei me conformar com tempo.
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