O Silêncio. Um eco sem cor vibrando pela casa. Todos esses
lugares comuns, o pó dos móveis e os papéis abandonados ao acaso.
O cheiro familiar, algo adocicado, misturado com o comer de
ontem, perdido na memória do dia.
O escuro da luz neutra, baixa
para não ferir os olhos. Tudo no silêncio da casa.
A sua casa, tão sua uns dias, outros completamente indiferente.
A sua casa, tão sua uns dias, outros completamente indiferente.
Não havia pronunciado uma palavra naquela semana. Foi como
se as palavras fugissem de si, se escondessem num qualquer recanto da mente, se recusassem
a formar as ideias que cresciam no seu ser.
Quedara-se num canto da casa na penumbra, olhando ao longe
um fio fino de paisagem por uma nesga da janela.
E via, no chão de madeira o dia a passar, as horas marcadas
por sombras. Dias radiosos de sol pelo brilho do soalho, aquele dia triste de
chuva pela triste escuridão da casa.
Pensou que se esquecesse as palavras, se permitisse que elas
se esvaíssem de si aqueles sentimentos que a atormentavam desapareceriam também
na ausência de significado, na impossibilidade de tradução.
Esperou, inerte. Perdendo um som
de cada vez, esquecendo os rabiscos no papel…havia uma semana que não dizia uma
palavra.
Quando todas as palavras se perderam por fim, quando não
havia mais código nem símbolos, nem formas de se explicar levantou-se por fim.
Aproximou-se da janela, abriu-a. Cheirou o ar e não soube a
que cheirava. Nem conseguiu sorrir ao verde das colinas, ao azul do céu.
Não soube como explicar. Perdera as ideias tristes que havia
dentro de si…mas sem as palavras perdera também a beleza dos dias.
Sentir nada pareceu-lhe então um
horror maior do que sentir algo que ia doer…Não poderia viver em tamanha
apatia.
Quedou-se então perante a janela aberta e lembrou-se de um
som de cada vez, prenunciando-o ao vento. Esforçou-se pelas noites, contando as
estrelas, dando-lhes nomes. Até que uma frase se formou, depois um conceito, e o
coração apertado criou a dor e o desgosto que vivia em si tornou vivo.
E ainda assim, doendo que estava a sua alma, cheirou o ar e
cheirava a terra molhada pela geada da manhã, sorriu à beleza do verde das
colinas e viu a aurora nascer, o milagre de um novo dia.
Pensou então na sua ingenuidade.
Pior que sentir tamanho desgosto, é não
sentir nada.
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