quarta-feira, maio 29, 2013

Ensaios VI

"Blessed are the hearts that can bend they shall never be broken."

Camus, A.

Esperamos que passe. Um dia há-de passar.
Esse travo amargo de boca, essa certeza de que algo ficou perdido entre nós e a verdade dos momentos.
Ente nós e os outros. Entre nós e a vida que estava a passar.

Inevitavelmente perdido. Num qualquer vazio de tempo onde ficamos condenados à nostalgia. A esse travo amargo que não passa.

Como se a vida se estivesse extinguido e nada mais houvesse para além disso. De um luto perpétuo, do qual só poderemos desejar que um dia passe.

Extintos e passivos dentro de nós mesmos, remoendo a certeza de que não podia ser diferente. Desejando ingenuamente que fosse.

Esperamos apenas que passe. As horas, os dias, quem sabe os anos. Esperemos que não dure para sempre.
Que se recupere, que se sobreviva.

Que um único erro, não cresça e ganhe raízes, como um tumor, que um único erro não seque tudo em seu redor e nos mate, de incertezas.






segunda-feira, maio 06, 2013

Momentos de comunhão


Há num concerto um linguagem universal que nos une.  A todos os que lá estão, os que sabem a letra de cor   aos que apenas batem o pé ao som de ritmos mais ou menos desconhecidos. Os sóbrios, aos alcoolizados, aos viajantes dos fumos que por lá passam e de tudo o mais, une adolescentes e gente vivida, todos num mesmo recinto, cantando num coro emocionado.

Um concerto, quando é bem executado, quando os que estão no palco amam aquilo que estão a fazer e isso se consegue sentir a cada segundo, a qualquer distância do recinto é um momento de comunhão extraordinário. 

Tudo o que sentimos quando soa a nossa música favorita e as 10.000 pessoas que ali estão a cantam todos juntos, num coro que se eleva sem amplificação e se mistura com as vozes do palco, momentos desses são inesquecíveis e a única coisa capaz de explicar as horas que aceitamos passar de pé, as filas intermináveis para a cerveja ou as inarráveis casa de banho dos festivais!

Ontem no Nght & Day nos jardins da Torre de Belém sentiu-se tudo isso quando os The XX subiram ao palco. E foi realmente um concerto brilhante, com uma plateia rendida desde o primeiro momento e uma banda feliz em palco.

Mas houve mais, houve muita e boa electrónica de John Talabot ao DJ Set do Jamie XX e a noite a fechar com James Murphy.

E houve gente bonita num cenário coroado pela torre de Belém. Portugueses, mas também muitos estrangeiros, numa noite morna de primavera.

Há concertos que guardaremos na memória. The XX será um deles!