domingo, outubro 20, 2013

Casa...

Nunca tive casa. Tive casas. Sítios espontâneos onde era suposto existir.
Escovas de dentes perpétuas num copo abandonado, gavetas meio vazias e um espaço que eu deveria ocupar a tempo inteiro, no qual não comparecia. 

Temporariamente definitivo. A casa do pai e a casa da mãe. Como realidades paralelas, muito para além das distâncias que as separam. Muito para além dos seus significados. Casas, dimensões. Sítios diferentes. Existências distintas, uma sensação inesgotável de não pertencer. 

Não se esgotou ai. Houve um momento em que tinha cinco escovas de dentes activas. Em vários pontos do país, nessas casas que eram todas a minha. A da mãe, a do pai, a da irmã, a do namorado, a minha… Sítios. Frios, com cheiros. Com rotinas e almas. Pessoas. Casas, dos outros. Que deviam ser um pouco minhas.

Quando se está em todo o lado, não se está realmente em lado nenhum. Quando se é nómada a nossa casa segue atrás de nós, num qualquer pacote reduzido de pequenos objetos transportáveis. 

Num portefólio infindável de caras que não conseguimos fixar. De vidas que correm, imparáveis e que nós não conseguimos acompanhar. 

E no entanto, o desejo de ter uma casa é ensurdecedor. E quanto mais o tempo passa, e as casas se multiplicam, mais o silêncio das paredes vazias grita. 

Não somos realmente de sítio nenhum se não temos casa. Somos múltiplos se tivermos muitas casas, mas somos completamente sós se acharmos que podemos viver em todas elas. Não podemos. Podemos ter uma casa. Um sítio, todos os outros são adereços. Passagens. 

Depois de tantos anos, tantas casas. Não tenho casa. Nem a minha se sente minha quando aqui estou… Por isso é fácil, fazer a mala e ir. Reduzir o quotidiano ao indispensável e empacotar. Não devia. Mas é. 

Numa certa apatia. 

Se casa é onde o nosso coração está…encontro-me algo sem abrigo neste momento…

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