Gosto de correr. Não gostava, não gostava de nada que implicasse um grande esforço. Foi uma educação necessária, trabalha-se o corpo, mas em primeiro lugar educa-se a mente para o esforço, para a resistência à dor. Foca-se as forças em objectivos. Aprende-se na paciência do esforço e da recompensa. E essa educação vai muito para além da corrida, espalha-se nas nossas vidas.
Não sou uma grande atleta cheia de possibilidades por cumprir. Fiz as pazes com isso depressa, aceito as minhas limitações e principalmente compreendo que a recompensa surge de um trabalho longo, pesado e de um comprometimento com a causa que nem sempre estou disponível a fazer.
Essa aceitação poupou-me a muitas frustrações e fez de mim a minha única adversária. O meu tempo, as minhas possibilidades, a minha vontade, eu e tudo aquilo que eu conseguir perante mim.
Parto para cada prova com essa certeza que vou fazer o melhor com aquilo que tenho. E acabo sempre com grande satisfação por ter simplesmente chegado ao fim.
Mas os tempos existem, os percursos mais ou menos difíceis e a competição, mesmo que interior é inata. Por isso estabelecer objectivos é algo que também eu faço. Tento fazê-lo de forma realista, mas faço e fico genuinamente feliz por os cumprir.
Ontem fiz a minha quarta 1/2 maratona e tinha um objectivo claro, baixar para a 1h50m. Sem pressões, sem tragédias pessoais se não conseguisse. Mas queria muito fazê-lo e fiz. E estou genuinamente feliz com isso.
Fiquei tentada a abandonar o objectivo ainda antes da partida. Demasiada gente, pouco espaço para progressão. mas partimos bem posicionados. Inicialmente ia fazer a prova com uma "lebre", mas tornou-se impossível seguir alguém nos primeiros minutos tal era a confusão.
Fiquei portanto sozinha. Eu e eu mesma a olhar para um relógio cruel sempre a debitar minutos e poucos quilómetros a passar.
Os primeiros 12kms não tiveram história. feitos numa hora e poucos segundos, era o plano e o plano cumpriu-se.
Por volta do 14kms houve a primeira quebra. A psicológica, aquela incerteza no objectivo, um desacelerar do ritmo e o primeiro fraquejar de pernas. Houve ai muita conversa interior, muito "PEP Talk", muito "vais conseguir, não desistas". Depois entra-se na fase, "ok, também se não conseguires não tem problema, há outras provas" enquanto se vai recuperando lentamente até à próxima quebra. E ela chega, chegou pelos 17kms, pernas pesadas, corpo dormente, passada curta.
O calor do asfalto a queimar. Cada vez mais espaço para correr e os quilómetros a contar. E o raio do tempo que não para.
Ainda assim, ao 18kms a lutar contra a quebra massiva, olhei o relógio e acreditei. Um "feeling" e quando se acredita surge mais, muito mais força que vem não sei bem de onde, muito mais resistência à dor, muito mais determinação para o "tem de ser e é hoje!".
Cheguei em cima da 1h49m06. E vinha extasiada. Com vontade de chorar com a emoção de ter conseguido.
1h49m06s não é extraordinário para o mundo em geral, mas é o melhor que eu pude fazer até hoje. É EXTRAORDINÁRIO para mim.
Uma muito pequena vitória que me faz acreditar que tal como na corrida, podemos educar-nos para as pequenas batalhas que travamos na vida. Até que vamos ser fortes para enfrentar as grandes!
P.S: Um obrigada pelo apoio de todos. Em especial da Alcateia ACP. É tudo mais fácil quando fazemos parte de algo, e é bom fazer parte da Alcateia :)
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