Não tenho bons exemplos. Nunca tive, os casais da minha vida
não se aturam nem se aguentam, talvez seja porque existo eu. Mas perduram
firmes e hirtos, como um monumento porque há coisas na vida que não podem
acabar, mesmo que a sua existência seja metaforicamente um fim de vida.
Deparo-me então com essa perplexidade, muitas das pessoas
que conheço vivem de alguma forma relações contrariadas. Porque o amor morreu há
demasiado tempo, porque a concepção de fidelidade varia conforme o interlocutor,
porque de tudo o que podem fazer no mundo estão a fazer qualquer outra coisa,
porque não são um, mas são dois. Mas os dois…na verdade não dão um que valha a
pena.
Chega então aquela fase que apetece ser mesmo cínica com
essa coisa do amor. Do imaginário Romeu e Julieta e do arrebatamento apaixonado
das histórias dos filmes… afinal, parece que já não se morre de amores, mas os
amores fazem muita gente enterrar-se em vida.
Lembram-se das paixões da adolescência, de como estávamos sempre
às portas da tormenta, das cartas e bilhetinhos, de todas as oportunidades para
nos confinarmos no mesmo espaço e respirar o mesmo ar? Que se passa entretanto?
Quando é que pessoas que sonharam juntas passam a ser
mortos-vivos olhando o prato de sopa? E quando é que passa a ser aceitável mentir,
trair, enganar e voltar para casa de cara lavada?
Se fosse noutros tempos revoltar-me-ia.
Assim, apetece-me só ser cínica.
Ainda que tenha um coração de menina, ainda que sonhe
acordada, ainda que no meu íntimo deseje que tudo isso seja mentira, e as
pessoas se amem e se apaixonem e fiquem transtornadas, e mudem as suas vidas…
Porque eu sei que é possível, mesmo que tenha um fim. E
antes um fim, triste e devastador, que uma não vida.
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