"I assess the power of a will by how much resistance, pain, torture it endures and knows how to turn to its advantage. " Friedrich Nietzsche
Doí sempre. Doí porque estás bem e queres fazer o teu melhor e doí porque não estás preparada e queres chegar ao fim, nem que seja de rastos.
Doí sempre. Doí porque estás bem e queres fazer o teu melhor e doí porque não estás preparada e queres chegar ao fim, nem que seja de rastos.
Doí-te quando sentes que não tens mais espaço no peito para
respirar ou quando o teu coração se transforma numa bomba em sobreaquecimento pronta
a rebentar.
Doí enquanto sentes as pernas, doí-te quando ficam tão
dormentes que já não dás passos e apenas tens espasmos que numa impossibilidade
técnica te continuam a impulsionar para a frente.
Correr uma meia maratona dói. [ponto]
Não tem uma explicação. Quem não corre não pode entender,
porque não tem explicação.
Como explicar a alguém que podes simplesmente ultrapassar o
limiar da dor porque não queres desistir?
E que cada passo que dás em direção à meta é uma pequena
vitória interior.
Como explicar que as conversas que tens contigo mesma, a análise,
todo esse tempo é um espaço de auto-conhecimento e reflexão inesgotável, que
acabas sempre melhor do que começaste…mesmo que pareças um farrapo?
Não sou grande atleta. Não tenho nem tempo, nem
disponibilidade para o ser. E existe um lado hedonista do meu ser que, para
além de correr, gosta de um outro tipo de boa vida. Ou de má, depende sempre de
como a estamos a viver. Se não dormes o suficiente, se não comes com tino, se vais bebendo coisas para além da água, se vives… corres, mas não corres a mesma conta.
Mas tudo isso não me fatiga o espirito, nem a prova em si, o
aparato de domingo, não é o que me fascina. Faço-o porque é estimulante e porque
corres com outros, alargas outros horizontes. Conheces cidades e serras.
Conheces cidades que despem as avenidas de
carros para te receber. Numa perspetiva completamente diferente dos espaços e
do pulsar das artérias. Vais a sítios onde não irias, e essa descoberta
exterior é também um desafio aos sentidos. Nas serras, os cheiros a mato, a
erva molhada pela manhã nas provas de trail, ou ao bafo salgado das vertentes
que estendem junto ao mar.
Seja onde for, é sempre uma overdose para os sentidos. É
sempre uma sensação de se estar viva para além do torpor dos dias. E de
superação.
Por isso sofres, porque nessa balança de equilíbrio delicado
ganhas sempre mais do que o que perdes. Não desistes porque a frustração de não
acabar é mais difícil de aguentar do que aquela dor estupida que se te meteu
nos joelhos.
E mesmo que te falte tudo, na via sacra dos últimos quilómetros,
te falte hidratação, te falte a alimentação, que te falte a energia, nunca te
falta o coração.
Cada meta atingida é uma vitória íntima.
Não se explica, não sei explicar isso a ninguém.