Desde que aderi ao instagram tirei 1066 fotografias. Muitas delas são versões de mim. Uma espécie de coleção: "Anita na praia, Anita no campo. A Anita vai ao restaurante, a Anita aprende a correr."
Já me questionei sobre essa torrente de imagens produzidas
com a facilidade de um clique, assim como já me questionaram sobre o porquê de
o fazer, às vezes até de forma depreciativa.
No entanto, depois de pensar sobre essa depreciação não vejo
o porquê.
Não tenho filhos, nem cão, nem gato, nem namorado. Que mais
sobra para fotografar se não Eu e os sitios onde vou.
Se fotográfo para o (m)eu feed e se com ele alimento a minha
timeline?
Se são os meus espaços, onde eu construo uma narrativa,
ainda que em boa parte seja um simulacro da realidade, qual é o problema do
culto da minha imagem. O facto de ser autoinduzido?
Entretanto, percebi também que criava na mente das pessoas
um mapa virtual da minha vida. Alguns sentem que sabem de tudo o que eu faço.
Dos sítios onde vou, do que como, do que penso.
Esta perceção fez-me refletir sobre o poder das imagens e
das construções. Uma timeline do facebook é uma narrativa, como que um
argumento que se vai escrevendo diariamente. Podemos, não ter a perceção de que
o fazemos, mas criamos uma história.
A nossa história. Só contamos aquilo que queremos, como faríamos
se conversássemos com alguém na mesa de café.
Vou a muitos sítios que não estão no facebook. Penso muito
para além do que desabafo no facebook, o facebook é a fotonovela das coisas
boas, temperada com um ou outro desaire e uma série de mensagens subliminares partilhadas apenas com aqueles que conhecem os nossos códigos.
Ainda assim, uma construção. Que quando bem orientado pode
levar as pessoas a pensar exactamente aquilo que pretendemos que pensem de nós.
E como as massas são fáceis de manipular, à escala da esfera
privada, as redes sociais são a ultima ferramenta de formatação de mentes.
"A Anita vai ao cinema, a Anita aprende a cozinhar, a Anita
faz-vos pensar naquilo que ela quiser… A Anita leu um artigo de jornal, A Anita
vai a um concerto…."
Um dia destes conversava com alguém sobre o facto de que o facebook e a partilha de fotos ou simples pensamentos me ajudam a reduzir a sensação de solidão. Quando vives só o silêncio entre paredes pode ser avassalador. Por maior que seja a tua paz interior, o confronto com outros, a troca de palavras, um simples "like" ocupa espaço no teu tempo, faz-nos sentir acompanhados como se vivos no pensamento de alguém por breves segundos.
É a nossa humanidade a sobrepor-se a um estado racional. A nossa necessidade de criar memória e de partilha-la. É isso, esse culto de imagem que nos embala.
Um dia destes conversava com alguém sobre o facto de que o facebook e a partilha de fotos ou simples pensamentos me ajudam a reduzir a sensação de solidão. Quando vives só o silêncio entre paredes pode ser avassalador. Por maior que seja a tua paz interior, o confronto com outros, a troca de palavras, um simples "like" ocupa espaço no teu tempo, faz-nos sentir acompanhados como se vivos no pensamento de alguém por breves segundos.
É a nossa humanidade a sobrepor-se a um estado racional. A nossa necessidade de criar memória e de partilha-la. É isso, esse culto de imagem que nos embala.
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