terça-feira, fevereiro 02, 2021

Os dias...

Os dias estão maiores já se nota. As luzes espalhadas pelo caminho acendem-se ainda de dia como se estivessem mal sincronizadas. Saio e ainda se vê o caminho de terra batida, levo os olhos a esse chão, essa obra inacabada. Ora seco, ora encharcado, transformado num lamaçal. Cada buraco que não o era no dia anterior, a terra pisada, as pegadas.

Minhas ainda? Haverá mais ténis Nike 38,5 por aqui? E os rodados dos carros, dos tratores, as pegadas de animais indefinidos, que fazem todos eles por aqui? Há casas fechadas, terrenos agrícolas, sobreiros sós. As cegonhas, o burro e a horda de cães que se agita em quintais aleatórios ao som do meu passo.

Cheira a madeira no momento da queima, notas fortes como a espinha dorsal de um perfume. Cedro, pinho, terra e silêncio, tudo embrulhado na maldita humidade de um inverno que não se decide a ser frio e chuvoso e de tempestade, escolheu ser limbo.


Sempre pintaram o inferno como um sítio em chamas, não creio. O fim dos tempos será cinzento e húmido. Sem tréguas ou um raio de sol, só nós de roupa encharcada colada ao corpo, ténis sujos de lama a tremelicar de frio. 


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