segunda-feira, agosto 28, 2006

Sozinha em casa...



Aqui estou eu, pela primeira vez realmente sozinha em casa.
Tenho única e exclusivamente a miss Mia Wallace como companhia, esta gata mimadinha e cheia de manhas que me espera todos os dias em cima da sapateira e que reclama constantemente a minha atenção.
De resto são só paredes, as minhas paredes. Os meus objectos, o meu tempo só comigo.
Nem sempre é fácil, há momentos em que não sei o que fazer, em que sinto saudades da minha companhia, outros em que a inércia se apodera de mim e desespero. Há outros momentos ainda que me sinto realmente bem. Sinto como que preenchido este espaço, sinto-o preenchido por mim.
Sinto que posso fazer o que me apetecer, posso viver um pouco só dentro do meu mundo porque não está aqui ninguém para ver, ninguém para achar que eu sou uma lunática, ninguém que sinta que eu estou realmente a leste do mundo.
Por isso posso ficar por aqui mesmo a divagar, a construir castelos, cenários e irreais, posso ficar aqui no escuro a viver outras vidas, ninguém vai notar.
A solidão sempre me assusta, vazios, silêncios. Parece que eles vêm para nos assombrar e que no meio deles vem todos os nossos males, e que no meio deles a única coisa que conseguimos ver são os problemas. Tenho medo dos barulhos que ouço de noite, das sombras que se passeiam nas janelas, tenho medo de por os pés no chão para me levantar da cama...
Mas depois de afastar as assombrações sinto-me tão segura, tão leve dentro do meu ninho, tão no meu mundo que nada poderia ser melhor do que este silêncio que perdura. Do que esta ausência de palavras, de discurso, de sons. Não preciso de falar comigo. E gosto do silêncio, gosto cada vez mais dele.
Acho mesmo que cada ser humano havia de guardar para si uns momentos de cada dia para se dedicar ao silêncio, o mundo seria melhor. Talvez a gente se consiga conhecer melhor assim...
Sinto falta da minha companhia, muita. Mas vou continuar por mais uns dias em casa sozinha, com a minha Mia, com as minhas paredes e com as minhas fantasias. Espero pelos dias em a minha casa se encha de sons e de palavras e eu deixe finalmente de estar sozinha e o silêncio não seja perpétuo e eu tenha de o procurar, e eu sinta falta dele. Ai o silêncio deixará de imposto e será ainda melhor quando ele acontecer...

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