Saiu era já tarde. Chovia, as luzes espelhavam no chão molhado, os limpa-parabrisas entravam incessantemente no campo de visão, a cidade parecia mais só e vazia apesar de cheia de carros nervosos pelas ruas.
Aquele havia sido um dia difícil, de más memórias. O trabalho durou até tarde, as chatices foram muitas, as recordações, os desenganos vieram para ficar. Sentia-se exausta. Exausta de tudo e de todos. Viu-se ali, no seu carro, no escuro da noite por entre a chuva, desesperou lentamente. Chorou. Primeiro uma lágrima frágil e envergonhada, depois compulsivamente, descontroladamente. Sentiu-se mais só que nunca, mas triste que nunca, mais sem certezas, sem qualquer certeza a não ser o seu rol de duvidas, de mistérios e de erros.
Ali, por entre lágrimas, por entre a chuva, dentro do seu carro velho apeteceu-lhe genuinamente morrer. Morrer não no sentido do fim da vida, mas morrer enquanto aquela pessoa. Morrer da maneira como se conhecida.
Deixar-se simplesmente dormir e acordar de manha noutra cama, noutro sítio, com outras pessoas e outras responsabilidades. Deixar simplesmente de ser quem era e ser ela mesmo sendo outra pessoa, vivendo outra vida.
Queria não ter aqueles pesos em si. Aquelas satisfações para dar, aquelas pessoas a quem contentar, aquele código de comportamento implícito, aquela vida dependente de tantas outras vidas, de tantas opiniões, concelhos e avisos.
Queria simplesmente ser só.
Queria estar numa vida diferente, queria que aquela sua vida morresse, queria viver outra.
Não queria sentir tudo aquilo. Pensou “Isto é apenas porque me sinto cansada, porque o dia correu mal, porque vou chegar a casa e me sentir sozinha, não vou gostar do jantar, vou-me aborrecer com o zapping televisivo e quando der por mim serão horas de dormir, e depois horas de acordar, e depois estarei novamente no sitio de onde venho, com a triste sensação de que acabei de sair dali. Sim, choro de exaustão. Choro…" Talvez chorasse por se sentir infeliz. Talvez as escolhas difíceis, as escolhas livres não fossem nunca livres, talvez ela no meio da exaustão percebesse, que nada do que livremente escolhera fora livre e por isso as suas escolhas não eram felizes…
Ela não era feliz também.
Acalmou-se, a viagem estava preste a chegar ao fim. Sairia do carro recuperada do seu devaneio. Sairia confiante em si, disfarçaria o seu ar inchado de chorar com a desculpa do trabalho, daria de si a imagem competente, confiante, prospera que o mundo esperava. Estaria ali para as suas escolhas como uma fortaleza, aquela fortaleza capaz de proteger tudo, menos a real liberdade.
Quem sabe essa nova convicção duraria até deitar a cabeça na almofada e sentir-se de novo só, frustrada na escuridão.
Quem sabe duraria até ao próximo dia exaustivo e deprimente.
Quem sabe se poderia durar para sempre, como uma reinvenção de si mesma. Poderia ser essa a vida que necessitava.
Ser rocha, ser pedra fria e não deixar-se mais levar pela emoção, pelas noites escuras, pelo cansaço.
Talvez, não poderia matar-se enquanto ela identidade, talvez se pudesse matar enquanto ser emocional.
Pensou. “Se não chorar mais sozinha no meio do trânsito quer dizer que sou feliz? Pelo menos pode querer dizer que não sou triste!”
Talvez chegasse…
Saiu do carro pronta a encarnar-se de novo, sentiu o ar frio da noite no rosto, secou as lágrimas. Continuou com aquela triste sensação.
Não, não chegava matar-se emocionalmente. Nunca chegaria. Teria mesmo que se matar enquanto identidade para o mundo. Teria que ser outra pessoa, queria ser outra pessoa, era imperativo.
Sorriu á noite, deixou cair a chave do carro para o chão, deixou a porta aberta e afastou-se lentamente sem rumo certo, sem certezas de nada.
Avançou na escuridão até se confundir com tudo o resto, até desaparecer.
Foi com um enorme sorriso, sentiu-se livre, livre, completamente livre…
Sabia que não importava o resto…Não importava como seria. Naquele momento sentiu-se completamente feliz…
Aquele havia sido um dia difícil, de más memórias. O trabalho durou até tarde, as chatices foram muitas, as recordações, os desenganos vieram para ficar. Sentia-se exausta. Exausta de tudo e de todos. Viu-se ali, no seu carro, no escuro da noite por entre a chuva, desesperou lentamente. Chorou. Primeiro uma lágrima frágil e envergonhada, depois compulsivamente, descontroladamente. Sentiu-se mais só que nunca, mas triste que nunca, mais sem certezas, sem qualquer certeza a não ser o seu rol de duvidas, de mistérios e de erros.
Ali, por entre lágrimas, por entre a chuva, dentro do seu carro velho apeteceu-lhe genuinamente morrer. Morrer não no sentido do fim da vida, mas morrer enquanto aquela pessoa. Morrer da maneira como se conhecida.
Deixar-se simplesmente dormir e acordar de manha noutra cama, noutro sítio, com outras pessoas e outras responsabilidades. Deixar simplesmente de ser quem era e ser ela mesmo sendo outra pessoa, vivendo outra vida.
Queria não ter aqueles pesos em si. Aquelas satisfações para dar, aquelas pessoas a quem contentar, aquele código de comportamento implícito, aquela vida dependente de tantas outras vidas, de tantas opiniões, concelhos e avisos.
Queria simplesmente ser só.
Queria estar numa vida diferente, queria que aquela sua vida morresse, queria viver outra.
Não queria sentir tudo aquilo. Pensou “Isto é apenas porque me sinto cansada, porque o dia correu mal, porque vou chegar a casa e me sentir sozinha, não vou gostar do jantar, vou-me aborrecer com o zapping televisivo e quando der por mim serão horas de dormir, e depois horas de acordar, e depois estarei novamente no sitio de onde venho, com a triste sensação de que acabei de sair dali. Sim, choro de exaustão. Choro…" Talvez chorasse por se sentir infeliz. Talvez as escolhas difíceis, as escolhas livres não fossem nunca livres, talvez ela no meio da exaustão percebesse, que nada do que livremente escolhera fora livre e por isso as suas escolhas não eram felizes…
Ela não era feliz também.
Acalmou-se, a viagem estava preste a chegar ao fim. Sairia do carro recuperada do seu devaneio. Sairia confiante em si, disfarçaria o seu ar inchado de chorar com a desculpa do trabalho, daria de si a imagem competente, confiante, prospera que o mundo esperava. Estaria ali para as suas escolhas como uma fortaleza, aquela fortaleza capaz de proteger tudo, menos a real liberdade.
Quem sabe essa nova convicção duraria até deitar a cabeça na almofada e sentir-se de novo só, frustrada na escuridão.
Quem sabe duraria até ao próximo dia exaustivo e deprimente.
Quem sabe se poderia durar para sempre, como uma reinvenção de si mesma. Poderia ser essa a vida que necessitava.
Ser rocha, ser pedra fria e não deixar-se mais levar pela emoção, pelas noites escuras, pelo cansaço.
Talvez, não poderia matar-se enquanto ela identidade, talvez se pudesse matar enquanto ser emocional.
Pensou. “Se não chorar mais sozinha no meio do trânsito quer dizer que sou feliz? Pelo menos pode querer dizer que não sou triste!”
Talvez chegasse…
Saiu do carro pronta a encarnar-se de novo, sentiu o ar frio da noite no rosto, secou as lágrimas. Continuou com aquela triste sensação.
Não, não chegava matar-se emocionalmente. Nunca chegaria. Teria mesmo que se matar enquanto identidade para o mundo. Teria que ser outra pessoa, queria ser outra pessoa, era imperativo.
Sorriu á noite, deixou cair a chave do carro para o chão, deixou a porta aberta e afastou-se lentamente sem rumo certo, sem certezas de nada.
Avançou na escuridão até se confundir com tudo o resto, até desaparecer.
Foi com um enorme sorriso, sentiu-se livre, livre, completamente livre…
Sabia que não importava o resto…Não importava como seria. Naquele momento sentiu-se completamente feliz…
Matou-se enfim.
1 comentário:
Encarcerou a felicidade na própria morte. Não suportou a idéia de voltar a viver infeliz. Morro, agora, em paz, ou não morro para sempre! PERTURBADOR :)
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