sexta-feira, julho 06, 2007

"Crónica de uma morte anunciada"



“No dia em que o iam matar, Santiago Nasar levantou-se às 5.30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo.”

“ – Santiago, meu filho – gritou - que tens tu?
Santiago reconheceu-a.
“Mataram-me, menina Wene – disse ele.
Tropeçou no último degrau, mas levantou-se logo.
«Teve mesmo o cuidado de sacudir com a mão a terra que tinha nas tripas», disse-me minha tia Wene. Depois entrou em casa pela porta de trás, que estava aberta desde as seis, e desabou de bruços na cozinha.”


Desde o primeiro livro que me sinto completamente apaixonada por Gabriel Garcia Marquez, por aquele mundo quase irreal que ele cria, pela maneira “oral” como nos conta as histórias. Dá-me sempre a sensação de que se fechar os olhos estarei num daqueles quintais que descreve sentada numa cadeira a ouvir um ancião a contar histórias dos antigos da aldeia, é como se ele tivesse ali a sussurrar aquelas histórias cheias de vida e de morte, de fantástico, de coisas que no fundo nunca se percebe se poderiam ter mesmo acontecido.
Gosto deste lado humano dele, ele conta sempre histórias de pessoas, e essas pessoas são sempre uma história por si mesmas.
Depois o calor dos trópicos emana dos seus livros, há um exotismo subjacente a cada nome, a cada palavra.
Há uma áurea só sua.

Esta “Crónica de uma morte anunciada”, é só mais uma história simples, cheia de pessoas, de opiniões, de visões de um facto consumado que nos é dado na primeira frase. Santiago Nasar morre nesse dia, agora vamos lá ver como foi. Agora vamos ver como este único facto mudou a vida de tanta gente, vamos ver como tanta gente pode ser cúmplice de uma morte, que foi anunciada e que ninguém em consciência conseguiu impedir.
È delicioso.

Sem comentários: