Partir do castelo é um momento mágico. Descer a calçada num aperto de multidão, sentir a euforia que paira no ar.
Tanta gente ainda cheia de energia, tantas pragas que ainda não se rogaram, tantas dores que ainda não foram sentidas, ali, no momento da partida, onde ainda todos achamos que vamos conseguir chegar ao fim inteiros, respira-se alegria.
Depois são os primeiros quilómetros, de muita gente ainda em grupo, as escadas para a ermida, o mato, o canavial, os pomares, o areão, a ribeira onde nos afundamos até aos calcanhares, as margens da Lagoa...
Sim, as margens da Lagoa, as luzes reflectidas no espelho de água, tantos pirilampos espalhados pela noite, a Lua quase cheia, num esplendoroso luar de Agosto.
As luzes de pequenas terras desconhecidas ao longe, um mundo inteiro a girar indiferente àquele esforço enorme que cada um de nós está a fazer.
E depois essa overdose de sentidos, de cheiros, de sons, de texturas e cores...
Correr de noite é algo de mágico.
As dores, os músculos que não respondem, as bolhas nos pés e essas mazelas todas perdem-se à passagem pela pequena porta da muralha.
Porque às vezes tem simplesmente de doer... só assim sabemos que estamos vivos!
2 comentários:
Parabéns pela prova feita e parabéns pelo belo relato.
Obrigada :)
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