domingo, abril 28, 2013

Ensaios IV

"Estava a afogar-se em si. Naquele charco escuro de emoções indecifráveis. Sentia o ar a faltar-lhe, engasgava-se na sua própria saliva e por momentos a sua vista toldou-se, o mundo cobriu-se de negro, poderia estar a morrer naquele momento, afogada nas suas entranhas acossadas."




É sempre mais fácil ser-se mau, sentir coisas feias, espumar de raiva enquanto se imagina que o mundo uniu forças para nos maltratar.

Dá-nos força espernear até ao fim, gritar coisas infames, achar que doí um pouco menos se espalharmos a dor.

E depois, como se fossem pequenos picos de adrenalina pode parecer-nos mais fácil estar vivos se formos significantes, se nos for permitido dizer, sentir, pensar o que bem nos apetecer.

Iliba-nos, ser simplesmente maus, porque só o podemos ser em resposta, porque nos livra de culpa, somos maus, porque nos fizeram ser assim.

Deixar ir, perdoar, aceitar, começar de novo, amar em silêncio aquilo que já não podemos ter, nem ser é difícil. É um esforço constante, é exigente, é pura abnegação. 

Deve ser por isso que há tanto mal no mundo, ser-se mau é fácil, é simples e instintivo. Está em todos nós, é visceral.

Ser-se realmente bom, humilde, viver em paz é uma obra nunca acabada, é um caminho longo feito contra a corrente. É a mente todos os dias a lutar contra o sangue que nos pulsa nas veias, contra um coração que bate apertado e explode por vezes dentro de peito. 

Dentro de nós, é essa luta consciente. Entre aquilo que somos e o melhor que podemos ser...

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