quarta-feira, agosto 14, 2013

Divagações sobre o tempo VIII

"Respirou fundo e abandonou-se. Podia sentir a intermitência dos pensamentos, a forma estranha como eles se entrelaçam quando a linha do tempo é descontinuada e todos os estímulos parecem infindáveis.

Quanto tempo havia passado? Um minuto ou uma hora? Aquela música continuava a tocar incessantemente, como algo a que não se conhece começo nem fim, podia prosseguir ininterruptamente, fundir-se com a atmosfera e ser som de fundo.Ou podia ter começado a tocar mesmo agora, quem sabe, quem consegue responder imerso nessa atmosfera liquida da inconsciência?

Era suposto estar a pensar em algo? A resposta àquela pergunta do exercício, mas depois distraiu-se com as libelinhas  a voarem numa luta herculana pouco acima da água. E à direita passou um gato perdido, enquanto que vozes estranhas se abeiraram lá no topo, na estrada. Isso tudo, e como era o nome? Daquela pessoa que se apresentou ontem...ou a preocupação é só a cor do vestido, o significado da vida, que fazer afinal para o jantar? Raio de música que não acaba, dura uma eternidade.

E a luz? Era de mais, tapou os olhos com a chapéu e abandonou-se numa sesta, deixou de lutar contra membros moles e desfasados de si ou contra a noção de que estava errado, algo errado com aquele sitio, com o gatos a rondarem ou os gritinhos infantis que se ouviam do outro lado, numa margem que não conseguia ver. Seriam reais ou imaginados? Até onde podia ir esse mundo induzido?

Esse mundo liquidefeito sem tempo, sem noção. Até onde podia ir, vivendo, ouvindo mais e melhor, pensando em tudo ao mesmo tempo, tudo misturado, um tornado de coisas a serem varridas de si, a perderem-se para sempre no buraco negro das memórias. Todos essas frases perfeitas de que nunca mais se iria lembrar, até onde as podia inventar?"

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