terça-feira, novembro 26, 2013

O "urbanicidio"…


As cidades são como corações que batem, a ritmos compassados, alimentados por artérias vivas que trazem e levam, as alimentam e as mantêm vivas.

Quando aos poucos essas artérias são cortadas, como um coração mirrado em agonia, com falta de ar, as cidades param, hesitam, depois diminuem e obscuramente transformam-se em sombras de si, vegetando entre escombros até que morrem.

Devem ter morrido tantas, soterradas pelas cinzas de vulcões, abandonadas por habitantes escorraçados por epidemias, outras tantas sucumbiram à irrelevância dos seus caminhos. Outras morreram de mortes naturais, depois de levadas pelo tempo. Outras ainda, periclitantes estão a ser assassinadas nos nossos dias.

O assassino é meticuloso e tem tempo. Corta uma artéria de cada vez. A cidade ressente-se mas reorganiza-se com o ar diminuído, abranda. Reajusta-se. Até que entra em falência respiratória, não consegue mais subir degraus. Órgãos seus morrem de asfixia.

Espalham-se os órgãos devolutos. As casas vazias. A irrelevância torna-se evidente.

E com a cidade morremos nós, pequenas células. Abandonadas à sorte de um território vazio. De esperança nula.

O crime nesta cidade é de primeiro grau com premeditação agravada. Devia ser caso de estudo. Deviam escrever teses a ensinar como matar uma cidade em menos de uma década. Como mandar todos os que se importavam embora, como agarrar numa comunidade criativa, esperançada e pulsante, orgulhosa do seu espaço e asfixia-la até ao estado vegetativo.

Escrevam. E chamem-lhe Portalegre. 

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