As cidades são como corações que batem, a ritmos
compassados, alimentados por artérias vivas que trazem e levam, as alimentam e
as mantêm vivas.
Quando aos poucos essas artérias são cortadas, como um
coração mirrado em agonia, com falta de ar, as cidades param, hesitam, depois
diminuem e obscuramente transformam-se em sombras de si, vegetando entre
escombros até que morrem.
Devem ter morrido tantas, soterradas pelas cinzas de
vulcões, abandonadas por habitantes escorraçados por epidemias, outras tantas
sucumbiram à irrelevância dos seus caminhos. Outras morreram de mortes
naturais, depois de levadas pelo tempo. Outras ainda, periclitantes estão a ser
assassinadas nos nossos dias.
O assassino é meticuloso e tem tempo. Corta uma artéria de
cada vez. A cidade ressente-se mas reorganiza-se com o ar diminuído, abranda.
Reajusta-se. Até que entra em falência respiratória, não consegue mais subir
degraus. Órgãos seus morrem de asfixia.
Espalham-se os órgãos devolutos. As casas vazias. A irrelevância
torna-se evidente.
E com a cidade morremos nós, pequenas células. Abandonadas à
sorte de um território vazio. De esperança nula.
O crime nesta cidade é de primeiro grau com premeditação
agravada. Devia ser caso de estudo. Deviam escrever teses a ensinar como matar
uma cidade em menos de uma década. Como mandar todos os que se importavam
embora, como agarrar numa comunidade criativa, esperançada e pulsante, orgulhosa
do seu espaço e asfixia-la até ao estado vegetativo.
Escrevam. E chamem-lhe Portalegre.
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