A primeira vez é sempre difícil, não me enganem. Ninguém gosta de ter mãos suadas e de se sentir desadequado. De não conseguir ler expressões em rostos que não conhece, de não saber, não conhecer, não pertencer.
A primeira vez de algo é difícil. Eu gostava de me deitar agora e só acordar para o mês que vem, porque há uma série de primeiras coisas por fazer, o conforto dos dias perde-se.
Sim. a primeira vez também é excitante, porque é novo, porque é desconhecido, mas tal como dois amantes que não sabem bem o que fazer consigo mesmos naquele jogo, a primeira vez é melhor imaginada do que vivida. Venham as segundas vezes, a meia dúzia. Somos bons naquilo que conhecemos...no resto às vezes temos sorte.
Ao longo dos anos a primeira vez conseguiu evoluir do pânico para o simples desconforto. Tantas salas de aula depois, tantas apresentações ao jeito de alcoólicos anónimos, "olá, eu sou a Angie, venho de Portalegre, quero salvar o mundo...", tantas vezes a ouvir uma voz em segundo plano, sempre esganiçada, sempre menos confiante do que era necessário, saío sempre com a sensação de que havia mais para dizer, "Oh porra, como não me lembrei disto!"
30 anos de primeiras vezes depois, acho que a de hoje correu bem.
Não sou um ser muito social, não sou fã de pessoas à primeira vista. Sou desajeitada, tenho pouca noção espacial e nunca sei qual é o comportamento adequado. Esse código de cumprimentos, e beijos e apertos de mão. E os homens que abrem portas para passar, entro primeiro?
Não, não sou muito social. Deixo cair coisas, tropeço nos fios, fico minutos a pensar noutra coisa. Levo tempo a sentir-me confortável com as pessoas, a dizer baboseiras, a rir sem sentido, a ter um olhar directo e franco. Vou sentir-me desadequada meses.
No entanto as primeiras vezes são boas, são sempre cheias de sentido de possibilidade.
E hoje, do pouco que fiz ouvi um "muito bom mesmo".
Vim embora a sentir-me desadequada... mas cheia desse sentido único de possibilidade.
Amanhã, na segunda vez só poderá ser melhor...
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