“Ainda há pouco a minha mente vagueou até ti. A rever uma e
outra vez. Incessantemente. O principio, o meio e o fim da história. Escrutinando,
procurando esse momento tão específico, essa razão crucial, o princípio do fim
das coisas. A resposta para todas as perguntas, uma justificação para aquilo
que o absurdo não satisfaz. Às vezes vagueio assim.
Gosto de pensar que há histórias maiores que a vida, ou que
valem uma vida por si. Como se tudo o resto só tivesse início nessa fundação,
alicerces fundos, às vezes dolorosos mas capazes, feitos para durar e suportar
tudo o resto.
Porque se sobrevivemos a essa derrocada, ficaremos para
sempre de pé, muito para lá do fim dos tempos, dos limites do nosso ser.
Ficaremos.
Às vezes sinto uma vontade enorme de conversar, de te contar
coisas, de rir. Só de rir. Porque riamos tanto. Á vezes é uma vontade tão
grande que apetece gritar, é mais que física, é existencial.
E depois as saudades de todas as primeiras coisas que não
fizemos, de tudo o que vamos vivendo e não estamos, não somos, não.
Às vezes vagueio até ti e imagino que tínhamos sido mais
humildes, menos nós mesmos, mais outras coisas. Às vezes gostava que estivesses
aqui.
Gostava que nos conhecêssemos agora, que tropeçássemos um no
outro na esquina de uma rua movimentada, que fossemos beber um café como dois
estranhos e começássemos a acabar as frases um do outro sobre as coisas de que
gostamos.
Gostava que o mundo pudesse recomeçar e pudéssemos ter de
novo todas as coisas. Não como antes, mas agora. Sendo o que somos,
tão diferentes e tão essencialmente iguais.
Às vezes vagueio até ti. Como se estivesses a meu lado, como
se fosses parte. Uma parte de mim, que eu não consigo mais tocar.
Crescemos tão juntos, vejo-te em casa palavra que escrevo, e
a tua presença é um sopro de brisa morna, algo que se sente mas completamente intangível.
Às vezes vagueio, Outras não preciso. É como se estivesses
aqui.”
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