A vida passa, são os dias. Esses que nos consomem o tempo.
As horas, a que temos de estar como e aonde, a queimar pela pele secando-nos as
ideias.
Com esse frenesim de estar vivo, de respirar, de dormir, de
comer, de estimular e abstrair uma mente a ficar mole de cansada, um dia
reparamos numa falta de brilho num qualquer reflexo de espelho. Sabes, tens a
certeza que estás distraída com coisas.
Essa distração não é pensada, nem desejada e no fundo, bem
no fundo, achas que a estás combater nesse jogo de sobrevivência, porque te
expões e te ofereces à vida, fazes coisas que desejas, aproveitas no éter das
semanas os dias que são teus.
Essa distração é mais profunda, é do foro existencial. Estás
distraída nas respostas que tens de dar às questões iniciais. Afinal quem sou
eu, o que faço aqui?
A distração perante as perguntas sem resposta é um facto inevitável
na vida. Tendes, pendes, resvalas. Acabas por passar por lá, porque respiras no
conforto do imediato. E só quando começas a subir na pirâmide te apercebes, que
há mais necessidades a suprimir.
Tenho andado distraída.
Reparei.
É uma distração boa. Subtil. Reveste-se de dias quentes e leves.
Leves, leves como um sorriso aberto numa tarde de verão. Leve…insustentavelmente
leve.
É uma distração procrastinadora. A distração que nasce da
inercia. Como quando estamos tão ocupados a ver a beleza em nossa frente e não
vemos o acidente na esquina.
A distração é necessária. Reparei nela.
Ajuda-nos a sentir essa quantidade necessária de frustração,
essa quantidade que apaga brilhos.
Andar distraída é isso… juntar, juntar….juntar peso, peso
até que a nossa leveza se torne insustentável e comecemos de novo a pensar a
sério no que é suposto fazermos com a nossa vida.
1 comentário:
"A distração perante as perguntas sem resposta é um facto inevitável na vida."
Gostei especialmente desta. Obrigado pelas pérolas que vais semeando... :-)
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