segunda-feira, setembro 29, 2008

...

Ninguém disse que ia ser fácil. Gerir pessoas, gerir obras e móveis e contas e tudo o mais que aparecer. Estar preparada para isso, abdicar do meu tempo, deixar de ter a minha meia hora sanitária de silêncio e ar puro. Antever as necessidades dos outros, dar-lhe atenção, sentir como que invadida a minha vida pela presença de estranhos a este meu mundo. Com tanta coisa boa que me querem dar. Com tantas exigências e satisfações que necessitam de receber. Por vezes, não estamos simplesmente preparados para o que a vida nos dá, por melhor que isso possa ser...

A Mancha Humana

«Teria sido mais fácil sem ela. Mas só através desta prova ele pode ser o homem que escolheu ser inalteravelmente desligado do que lhe foi entregue à nascença, livre para lutar para ser livre como todo o ser humano deseja ser. Para obter isso da vida, para ter direito a esse destino alterado, segundo as suas próprias condições, tem de fazer o que deve ser feito. Não querem as pessoas, na sua maioria, abandonar a porra das vidas que lhes foram dadas? Mas não abandonam, e é isso que faz delas elas, enquanto isto era o que estava a fazer dele ele. Dar o soco, causar o estrago e fechar a porta para sempre (...) não podemos infligir esta dor e depois pensar que podemos voltar atrás. É tão horrível que a única coisa a fazer é viver com esse peso. Quando fazemos uma coisa destas, cometemos uma violência imensa que jamais pode ser anulada. E é isso que Coleman quer.»


Quem nunca se sentiu assim? Não achou que poderia resolver os seus problemas num abrir e fechar de olhos. Bastava para isso se diluir no mundo conhecido. Deixar de ter raízes, ultimo nome ou pessoas conhecidas.
Não é esta a essência da história, mas explica em boa parte a pessoa em que se torna a nossa personagem. A aura de mistério que o rodeia.
Porque o livro é ríspido, por vezes lascivo no uso das palavras, por vezes violento na maneira como expõe as situações.
É um livro que navega constantemente entre um passado já tão distante e um tempo nosso conhecido, cheio de personagens familiares num ambiente social marcado pelo escândalo sexual de Bill Clinton enquanto morador da Casa Branca.
Philip Root escreve sobre feridas antigas e que, no entanto, já na recta final do século X, continuavam bem vivas na memória dos americanos. A segregação racial e toda a luta necessária até se chegar à igualdade de direitos, um pouco mais tarde, a guerra do Vietname e os seus sobreviventes mutilados interiormente pelos horrores vividos.

Dentro desse clima, das novas directrizes morais da época, surge o romance entre Coleman e Faunia.

Ele já septuagenário e ela uma jovem mulher de 35 anos. As suas vidas confluem nesse romance quase proibido mas capaz de trazer um sopro de vida a um velho desolado e alguma afectividade a uma mulher marcada pela vida.

Mas ninguém em Athena está preparado para o deboche que é a felicidade de ambos.

A Mancha Humana expõe-nos a isso, aos sentimentos mesquinhos de todos, e aos das nossas personagens também.

Mas de muito mais trata este livro. De amizade, de relações familiares, de escolhas e erros que se cometem ao longo da vida, de como uma única palavra fora de contexto pode destruir a carreira de um homem brilhante e de como esse homem para ser brilhante optou por renegar as suas raízes negras e viver toda a vida como se tivesse nascido branco.

É um grande romance.


*Levou tempo a ler que estes são tempos difíceis, mas adorei o livro e o filme continua lá em casa preparado para meter no DVD. Talvez amanha, que hoje é dia de ir à sala de Cinema. Filme em cartaz The Dark Knight.

quinta-feira, setembro 25, 2008

The Last Shadow Puppets - The Age Of The Understatement (2008)



My Mistakes Were Made For You
Para experimentar este fim-de-semana...

Sala de Cinema IX


Vá, o filme tem umas quantas coisas demasiado fantasiosas. Os estereótipos das personagens são levados até ao limite e talvez não fosse necessário morrer tanta gente para fazer aquele trabalho.
Mas o filme é giro e segundo o Gaspar, é uma muito boa adaptação da banda desenhada que lhe deu origem e até deu para eu dar um salto daqueles na cadeira.
Não há nada como ver um filme no cinema!!

terça-feira, setembro 23, 2008

Outono

Olhos de Agua, perto da Portagem mesmo aos pés de Marvão...
As cores de Outono a pintarem de novo os recantos e a encherem o meu coração de nostalgia...

segunda-feira, setembro 22, 2008

Ice Storm (1997)


Paul Hood: To find yourself in the negative zone, as the Fantastic Four often do, means all every day assumptions are inverted. Even the invisible girl herself becomes visible and so she loses the last semblance of her power. It seems to me that everyone exists partially on a negative zone level, some people more than others. In your life, it's kind of like you dip in and out of it, a place where things don't quite work out the way they should. But for some people, the negative zone tempts them. And they end up going in, going in all the way.


Sente-se um frio glaciar. A vida das pessoas e os seus pequenos porquês. A desconexão das suas ligações, as dúvidas e descobertas, as irreverências próprias do seu tempo.

Aqueles que descobrem pela primeira vez a vida e a aceitam sem tabus e sem reserva, e todos os outros que já vivem há tanto tempo e descobrem que estavam apenas a perder tempo.


O sonho americano em estado "família perfeita", que no entanto, se começa a desconjuntar numa sociedade em que outros valores emergem.

Se num dia tudo pode mudar, como se uma tempestade varresse o nosso mundo e nos gelasse o sangue nas veias deixando-nos assim, paralisados por segundos, naquele momento em que, entre a vida e a morte, todos os momentos que vivemos passam como frames de um filme pela nossa mente, este foi o dia. O dia em que a vida destas pessoas passa por uma tempestade, e esta é uma tempestade de gelo, em que nada voltará a ser igual.

Se por um lado esta é uma história tipicamente americana, com os seus dilemas domésticos aparentemente diluídos na normalidade, por outro existe por toda a parte a delicadeza do cinema oriental. Em certas imagens, em pequenos sons ou até na fatalidade que acomete as personagens.


O excelente leque de actores, alguns ainda adolescentes como Christina Ricci, Tobey Maguire e Elijah Wood, outros já com carreiras feitas Sigourney Weaver, Kevin Kline ou
Joan Allen, fazem deste filme dirigido por Ang Lee uma obra a não perder.



Montagem encontrada no Youtube, em que alguem se lembrou de juntar a imagens deste filme a musica Santa Clara dos The National. Pareceu-me bem!

quinta-feira, setembro 18, 2008

Revistas

Não há muito tempo descobri uma enorme paixão por esta forma de publicação. Acostumei-me a espera-las com entusiasmo no final de cada mês, a ansiar pela novidade da capa.
Gosto de as ter arquivadas, de as saber ali guardadas como se de livros se tratassem. Passeio-as durante praticamente todo o mês entre casa e a esplanada do café. Leio tanto ao serão com uma caneca de chá, como as folheio entre conversas de amigos no café.


Desde o desaparecimento da Premiere sobraram-me duas revistas que compro religiosamente.
A National Geographic e a mais recente Courrier Internacional.

Na National Geographic deslumbro-me por fotografias lindas, para além do imaginável. Porque parece ser o cunho desta, transgredir os limites e superar-se a cada número. Não só na beleza das imagens que trás até nós, como na sensação de impossibilidade. Penso a cada página,"mas como é que estes gajos fizeram isto?", sejam animais, plantas, longas paisagens ou minúsculos seres, as imagens conseguidas são, na sua maioria, deslumbrantes. As cores e as perspectivas fazem sempre com que a mais simples reportagem se torne algo sublime. Depois a temática da revista, tão abrangente nas áreas das ciências naturais, da historia onde passa pela arqueologia, a antropologia e a sociologia, a medicina, a biologia etc. Tudo temas sobre os quais pouco sei, mas sobre os quais tenho muita curiosidade. Nisso a N.G. é insuperável.

Já a Courrier tem vindo a conquistar-me. Desde o 1º numero em Fevereiro deste ano que me tornei leitora assídua. Essencialmente porque gosto do conceito, reunir numa publicação mensal excertos de outros jornais e revistas, oriundos um pouco de todo o mundo. Talvez não prime pela actualidade, mas dá-me a oportunidade de ler e digerir informação sobre acontecimentos relevantes vistos por outros intervenientes. Politica, economia, sociedade, lazer são alguns dos assuntos que tanto podem surgir de um pais Árabe, dos E.U.A ou de um pais Africano. Há efectivamente uma globalização de visões, e uma partilha que, quanto a mim, promove a multiplicidade de opiniões, o que nos permite olhar o mundo de uma posição sem barreiras linguísticas, territoriais ou de carácter nacionalista.
Ao ler a Courrier, sinto-me uma cidadã do mundo.

Tem sido também um projecto editorial que não tem tido medo de arriscar e que nos tem brindado com o bom gosto a nível gráfico fazendo, mês após mês, capas bem conseguidas, chamativas e ao mesmo tempo sóbrias.



quarta-feira, setembro 17, 2008

Sala de Cinema - VIII

Para mim podemos dividir os filmes em dois grandes grupos. Os filmes que são obras de arte, que nos fazem pensar, que nos maravilham pela sua mensagem, ou pela sua fotografia, pela realização, o que seja. Filmes que são únicos.

E os outros. Os filmes que já vem "mastigados", que cumprem o seu objectivo lúdico na perfeição. Que nos fazem saltar na cadeira ou rir, filmes que ambicionam apenas entreter-nos.
E quando o conseguem normalmente são duas horas bem passadas entre amigos no cinema ou no sofá lá de casa.
É este o caso. Nada de novo em termos de argumento, nem de técnicas, nenhuma lição de moral extraordinária. Nenhum upgrade do filme anterior.
Só o guilty pleasure que é ir ao cinema ver um blockbuster e sair de lá quase três horas depois, bem disposta, sem nada de importante a retirar, sem nenhuma consideração a fazer.

Por isso sendo bom ou mau, o que importa é que cumpra o seu propósito, e neste caso cumpriu.

Setembro...

Parece que este é o meu mês...
O mês em que, ano após ano, a vida avança e se reinventa...

segunda-feira, setembro 15, 2008

Diz que...


Em Outubro volta a estar nas bancas a edição Portuguesa da Premiere! Boa noticia esta.
Quando há um ano surgiu a decisão de descontinuar a revista senti-me um pouco desiludida por achar que havia, de certeza absoluta, um lugar para esta publicação no panorama nacional. A prova está ai, ela está de volta com novos promotores, novo formato, mas espero, a mesma qualidade de sempre.

Neste momento, a edição mais aguardada de Outubro!

Penelope (2006)

Uma fábula infantil dos tempos modernos contada a adultos. A princesa amaldiçoada e o príncipe que a vem salvar ou a menina rica e o menino pobre, ou agarrar nisso tudo e baralhar e escrever esta história que tem tanto de moderno como de medieval.

Um filme bonito em termos visuais e bonito na simplicidade da sua mensagem e das soluções apresentadas. Teve o mérito de me conseguir manter acordada depois deste fim-de-semana estafante!

Este senhor vem mais uma vez mostrar que os homens não se medem aos palmos e que o seu talento vale por si.

Feel good movie!

Do fim-de-semana



Trouxe imagens lindas. Das serras, do Tejo que serpenteia entre o Alto Alentejo e uma Beira Baixa que espreita da outra margem. Conheci lugares fantásticos e factos interessantes, que só mesmo o guia nos podia apresentar.
Trouxe também um escaldão no pescoço, umas pernas cansadas e muitas gargalhadas dadas junto da família. Muito cansaço mesmo, porque foram muitos quilómetros entre subidas íngremes e descidas impensáveis debaixo de um calor inesperado!

Foi duro, mas valeu a pena!

Dia 1 - Trilho de Jans

Dia 2 - Trilhos do Conhal

sexta-feira, setembro 12, 2008

Mais um passeio!


Fim-de-semana em família a passear pelas terras de Nisa. Em conjunto com a malta deste projecto tão bonito que é os Caminheiros de Grândola.

Vem aí a mãe, a mana as tias e o tio para, ao longo do fim-de-semana, andarmos um pouco mais de 20 Km, com partida marcada para a Amieira do Tejo e com o rio sempre no horizonte.

Espero encontrar paisagens lindas e matar muito as saudades de todos:)

Tão boas expectativas até me fazem esquecer as horas completamente indecentes a que me tenho de levantar pela manha!

Paris J'taime (2006)


São pequenas caricaturas das ruas de Paris. Histórias inacabadas de vidas normais que pulsam no coração da cidade.

Nessa "cidade das luzes" onde paira a romance nas esquinas e se respira arte.

Sei que a ideia do filme era esta mesmo, fragmentar a cidade através das visões dos diferentes realizadores. Mas a rapidez com que os quadros isolados acontecem, muitas vezes dando-nos uma história sem nos apresentar os seus precedentes, deixou-me um pouco desiludida. Porque me apetecia ter mergulhado mais em cada uma dessas histórias, percebe-las e desenvolve-las quase como filmes independentes.

Falta "cola" entre os momentos e existe uma certa aleatoriedade entre eles o que faz com estes não façam grande sentido juntos.
Apesar de alguns deles piscarem o olho ao brilhantismo dos seus intervenientes, no conjunto, a mim parece-me uma colagem, um puzzle feito de peças erradas.
Cada quadro vale por si, mas não conseguem valer o mesmo todos juntos.

Um leque variado de realizadores (Frédéric Auburtin; Emmanuel Benbihy: Gurinder Chadha;Sylvain Chomet: Ethan Coen; Joel Coen; Isabel Coixet; Wes Craven; Alfonso Cuarón;Gérard Depardieu; Christopher Doyle; Richard LaGravenese; Vincenzo Natali; Alexander Payne;Bruno Podalydès;Walter Salles; Oliver Schmitz; Nobuhiro Suwa;Daniela Thomas; Tom Tykwer; Gus Van Sant;) e um vasto grupo de actores contribuem para este retrato da Paris contemporanea, multicultural e multerracial.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Estranhas noites...


Mal dormidas... intensamente vividas em sonhos desconexos.
Será deste fresco que já impera pela manhã?!

Ou só um presságio sobre o mundo em mutação?

Trazem um mau humor intrínseco consigo...

terça-feira, setembro 09, 2008

Um tesouro escondido...



Pela serra de São Mamede aparecem tesouros destes. Escondidos entre as escarpas, dissimulados na vegetação. Só acessíveis a quem conhece os antigos trilhos e a quem está disposto a percorrer a pé caminhos sinuosos esculpidos entre escarpas e ocultados entre a vegetação.

Mas o êxtase de chegar a este sitio tão belo vale por todas as agruras, porque este parece um cenário tirado de alguma paragem exótica daquelas que só vemos nas páginas das revistas.

Mas não, é aqui tão perto. Na encosta desta serra que nos cerca e que a cada dia me surpreende com a sua diversidade e me apaixona pela beleza.

Os dias já são mais curtos, o Verão esgota-se a cada raio de sol. Há um Outono que se aproxima de temperaturas mais amenas e de cores terra forte que se estendem pelas colinas.

Foi um dia tão bem passado, que só posso desejar repetir. Eu de cabelos ao vento na caixa aberta da carrinha e uma serra inteira por descobrir!

Perolas da serra





...

Eu no topo do mundo, contemplando a fronteira imaginária entre Portugal e Espanha.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Sala de Cinema - VII

Na reentré do cinema em Portalegre:


Sala cheia de pequenada barulhenta e feliz, de pais mais ou menos enfadados e de pessoas de todas as idades dos 6 aos 60 a gostarem realmente daquilo que foram ver.
O filme é giríssimo, a receita já não é nova, mas os ingredientes estão todos lá.
Pena foi não ter apanhado a versão não dobrada, porque se nota perfeitamente que algumas piadas ficam "lost in translation".
Mesmo assim, vale bem a pena ver.
Já se sente o Verão a acabar...e a vida a normalizar.
Já estava com saudades do cinema.*

* Uma das desvantagens de viver neste mundo interior. Não há cinema todo o ano...

terça-feira, setembro 02, 2008

Por estes dias...

Muitas coisas a passarem-se ao mesmo tempo.

Papeis, soluções, hipóteses. Assina aqui, confirma ali.

Investimentos, coisas que parecem de outra vida. Não é a minha, nem sou eu…

Quero que passe rápido. Que estabilize. Que volte à normalidade.

Por vezes, uma coisa que é muito boa na perspectiva de todos, transforma-se nesse furacão, em que o nosso coração se sente atordoado, e no seu intimo sabe, que nem tudo o que parece bom o é na realidade…

Ferro 3 (2004)

Porque por vezes o silêncio na sua complexidade, nos tantos significados que encerra, diz mais que mil palavras...
O filme é lindo!

segunda-feira, setembro 01, 2008

Casablanca (1942)


Ilsa: Play it once, Sam. For old times' sake.
Sam: [lying] I don't know what you mean, Miss Ilsa.
Ilsa: Play it, Sam. Play "As Time Goes By."
Sam: [lying] Oh, I can't remember it, Miss Ilsa. I'm a little rusty on it.
Ilsa: I'll hum it for you. Da-dy-da-dy-da-dum, da-dy-da-dee-da-dum...
[Sam begins playing]
Ilsa: Sing it, Sam.
Sam: [singing] You must remember this / A kiss is still a kiss / A sigh is just a sigh / The fundamental things apply / As time goes by. / And when two lovers woo, / They still say, "I love you" / On that you can rely / No matter what the future brings-...
Rick: [rushing up] Sam, I thought I told you never to play-...
[Sees Ilsa. Sam closes the piano and rolls it away]



Ilsa: I wasn't sure you were the same. Let's see, the last time we met...
Rick: Was La Belle Aurore.
Ilsa: How nice, you remembered. But of course, that was the day the Germans marched into Paris.
Rick: Not an easy day to forget.
Ilsa: No.
Rick: I remember every detail. The Germans wore gray, you wore blue.


Ilsa: But what about us?
Rick: We'll always have Paris. We didn't have, we, we lost it until you came to Casablanca. We got it back last night.



Uma linda história de amor.
Um belíssimo documento histórico dos tempo da II Guerra Mundial.
Humphrey Bogart charmoso como sempre.
Um argumento irrepreensível.
Grande clássico! Adorei.